Vou escrever sobre uma coisa bem simples e, até mesmo, boba.
Acho que a necessidade de precaver o leitor sobre o que será escrito evita as decepções, tanta as minhas quanto as dele.
Eu vou falar de uma coisa que acontece dentro de casa. Que acontece dentro da nossa casa e, por ser assim, só a gente sabe. Eu quero falar de um coração que tem que se dividir, mas que pra isso, quebra. Eu quero deixar claro que há dois mundo, o de dentro e o de fora de casa. Eu quero dizer que eu não sei o que fazer, mas também afirmo, de coração aberto, que não fiz o certo nem o errado. Eu fiz o que achava que fosse melhor. Não o melhor pra mim, nem para você, leitor. Foi feito o que eu achava melhor pra minha família. Você deve estar pensando que eu quero criar coragem para falar sobre uma doença ou morte que nos surpreendeu ou então de uma outra crise de qualquer espécie. Não é isso leitor, eu quero falar é de saudade. Mais do que isso, eu quero falar é do adiamento da saudade. É do “não ir embora” que eu quero te dizer. Eu quero que você fique na sala leitor, com sua avó vendo novela. Quero que você fique no quarto, com sua mãe passando roupa. Que você fique no escuro, com o seu pai trocando a lâmpada. Eu quero que você, leitor, não fique sozinho. Eu quero que seu coração não fique sozinho. Quando eu era criança havia um liquidificador e duas coisas para serem batidas: uma massa de bolo e um creme de babosa para cabelo. Para a minha felicidade de criança, bateram primeiro a massa de bolo. E eu que até esses dias acreditava em minha vó dizendo que bateria primeiro o bolo porque a babosa sujaria o liquidificador se fosse batida primeiro e poderia estragar a massa. Era tudo mentira. Ela sabia que a felicidade não seria para sempre, mas nem por isso ela deveria terminar o mais cedo possível. Então ela mentiu para mim. Graças a Deus, era mentira. O bolo acabou, o liquidificador também. Só a lembrança é que fica.
//texto pessoal