Em um certo
momento do dia eu fiquei tão triste que até gargalhei. Transpassei o véu das
verdades que criei e vi o que é real. E o seu não-amor por mim é algo real
neste momento de lucidez que por diversos mecanismos da fé é frequentemente
evitado. Quer saber: dá licença. Eu, com todo o meu amor possível e disponível à
espera da entrega me vejo assim, vago e antigo. Ultrapassado. Da vida não se
pode mesmo. Mesmo. Mesmo. Mesmo: esperar nada. Quando mais dramatizei e me
julguei pobre e porco de espírito, mais recompensado eu fui. Quanto mais cínico
e quanto maior o meu desdém pelo pouco que me cabia – sem merecer nem isso –
mais eu ganhei. Mas agora que estou aqui, na seção duty-free dos sentimentos bons e amáveis, me sinto mais puta do que
nunca. Uma vagabunda como sempre mereci ser e nunca me permiti. Eu sou uma puta
vagabunda que daria o rabo se tivesse vontade de dinheiro e de. Dar o rabo.
Daria mesmo. Porque é dando que se recebe. E, por dedução, o amor infinito de
um deus supremo me permite isso. E mesmo nessa confusão de coisas estranhas me
parece que estou por cima da carne seca. Ou seja, venci. A gente pensa que
venceu na vida só porque não matou ninguém. Apesar de toda vontade que existe.
Eu não acho a vida injusta. Acho que, inclusive, se tirarmos todo o romantismo
que existe na nossa cabeça, a gente vai ver que tudo faz muito sentido. O
macaco não desceu da árvore por acaso, aquele filho da puta. Ele queria chegar
até aqui. Aquele macaco maluco, cansado de ser quem era, decidiu que queria ser
outra coisa. Aquele macaco queria ser eu. Queria assistir i-Carly de manhã. Queria fazer pós-graduação. Queria viajar. Queria
apagar seus e-mails. Então se não está valendo a pena por mim, que valha pelo
macaco, pelo menos.