terça-feira, 14 de abril de 2009

Sombras na Parede - Capítulo 2

- Jacinta e Vanessa -

Vanessa estava namorando os livros de Lispector, quando a bibliotecária se aproximou:
- Você tem quantos anos?
A bibliotecária era amável nas tardes de sexta-feira.
- Eu?
Vanessa estava sozinha, mas se assustou com o semblante amigo de Jacinta.

- Quando eu tinha a sua idade - continuou Jacinta, sem ser respondida - eu também adorava os livros dela. Hoje já não gosto tanto. Estranho. Jurava que seria pra sempre. Mas faz bem lê-los. Você se descobre humano, ignora filosofias estúpidas e clichês. Você tem a chance de se revelar medíocre e achar tudo isso lindo.
- Bom, eu juro que vou amá-los pra sempre - disse Vanessa, sem concordar totalmente com as palavras da bibliotecária.
- Não vai.
Vanessa sorriu descontente e se sentiu invadida.
- Bom, já vou indo. Não encontrei o livro que eu queria.
- Qual livro?
- Cartas Perto do Coração.
- Eu tenho.
- Jura?
- Vamos para minha casa buscá-lo. Termino tudo aqui em dez minutos, me espere.

Vanessa queria negar instantaneamente o convite, mas não teve espaço para fazê-lo. Passados os dez minutos, elas já estavam no velho carro da bibliotecária.
- Quantos anos você tem?
- Dezoito.
A bibliotecária respirou aliviada. Acabara de ouvir aquilo que desejava.
A estudante estava ofegante. Acabara de mentir a sua idade.

(...)

- Túlio e Roberto -

Ao mesmo tempo em que Vanessa e Jacinta percorrem avenidas rumo a uma aventura desconhecida, Túlio e Roberto tomam uma cerveja num bar perto da casa da bibliotecária.

- Sabe Túlio, se não fosse por você, eu não conseguiria esse emprego. Ser professor está pra lá de complicado. Ainda bem que você me alertou sobre esta vaga! Rapaz, eu estou muito feliz. A bebida hoje é por minha conta.
- Que isso Roberto! Você pode contar comigo sempre. Não deu trabalho nenhum te deixar por dentro daquela vaga.
- E você também sempre pode contar comigo, mesmo que seja só pra desabafar, contar os problemas...
Os olhos de Túlio indicaram que as palavras de Roberto haviam sido certeiras.
- E eu posso contar com você agora? Exatamente agora, eu digo.

Roberto estava sendo sincero com o amigo, mas não imaginava que as coisas seriam assim tão rápidas.
- Claro que sim, disse Roberto, firmando olhares com o amigo.
- Sabe, eu fico um pouco constrangido de dizer, mas agora já é certeza, logo logo você saberia mesmo...
- O que é Tulião? Virou palmeirense?
Túlio não sorriu, preocupando Roberto.
- Eu sou soropositivo.
Sentiu o sangue de Roberto se concentrar em sua face. Um incômodo silêncio se fez. Túlio continou:
- O problema é a Jacinta...
- Você ainda não a avisou?
- Não é isso Roberto. Eu acho que ela me transmitiu isso...
- Túlio, acho melhor você pegar o seu carro e ir para casa da Jacinta. Vocês precisam conversar muito.

Na despedida, Roberto disse palavras de força para o amigo. Mas não foi sincero. Túlio pensou em abraçá-lo, mas nem o aperto de mão foi bem correspondido. Roberto parecia ter medo de alguma coisa... de ser contaminado, talvez. Túlio apenas lamentou pela ignorância do amigo.

Túlio está dirigindo rumo à casa de Jacinta.

3 comentários:

SUSANA disse...

Está cada vez mais instigante essa história! Estou amando!

Ana Aitak disse...

Suas visitas lá são sempre muito queridas, e eu continuo te visitando sempre por aqui, aguardando o próximo capítulo como todos. Bjus

Magnólia Ramos disse...

Pra onde Jacinta ta levando Vanessa!?

História interessantissima!

Proximo capitulo! \o/