"No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém"
Porque esta música me veio à cabeça e eu não sei a razão. Se é que existe. Talvez porque eu sinta falta da bússola que eu nunca tive. E me invade também a ideia de que "bússola" é uma palavra horrível. E tudo é uma rede de memórias, porque acabo de me lembrar de "Vidas Secas" e de como um dos personagens do livro se maravilhava com uma palavra que fazia referência ao demônio - não me recordo exatamente qual porque o demônio tem muitos nomes - e o menino pensava como uma palavra tão bonita podia significar uma coisa tão feia.
Vidas Secas foi o primeiro livro de impacto que eu li. Eu posso me lembrar exatamente do dia em que eu o comprei. Havia uma exposição no shopping com o objetivo de incentivar a leitura e, como eu estava invadindo este universo, fui conferir a tal exposição com os meus pais. Eu me lembro de ter me aproximado dos livros e não conhecê-los. Posso me lembrar da voz do meu pai sugerindo Graciliano, posso me lembrar de um casal dizendo que eu tinha bom gosto ao escolher aquele livro, posso me lembrar da minha mãe dizendo que ninguém no nosso país podia se tornar um leitor - não com os livros por aquele preço. Porque eles estavam realmente caros.
Eu estava na oitava série e precisei de três dias para concluir a leitura. Lembro que levei o livro pra escola e uma amiga falou que até cego conseguia lê-lo - a fonte do texto era muito grande. Posso me lembrar que eu não entendi todas as passagens. Acho que até hoje não as decifraria.
Mas a razão disto tudo talvez seja porque eu estou com vontade de falar sobre uma vitória. Uma barreira que a gente ultrapassa. Uma atitude que defina o antes e o depois. Posso reconstruir a minha própria imagem naquela época, no início da adolescência e sentir um amor tremendo. Mas não por mim, nem por Graciliano. Nem mesmo por meus pais ou por aquele casal. Não é um amor direcionado e dedicado a alguém. É um amor pela vida. Por eu existir, pela oportunidade de manter o coração batendo, por eu não ter desistido.
E ontem mesmo meus amigos estavam falando que o número de suicídios aumenta no inverno e que a maior contradição é tirar a própria vida - se pra viver exige coragem, pra morrer então nem se fala.
E eu penso que eu quis morrer em alguns momentos. Se dependesse apenas de um controle remoto pra desligar tudo, eu teria apertado o botão. E eu juro que não tenho tendências suicídas nem desconheço o meu valor. Eu só estou sendo sincero da minha maneira. Existe uma boa razão pra ser tão difícil acabar com a própria vida.
É porque ela vale a pena.
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém"
Porque esta música me veio à cabeça e eu não sei a razão. Se é que existe. Talvez porque eu sinta falta da bússola que eu nunca tive. E me invade também a ideia de que "bússola" é uma palavra horrível. E tudo é uma rede de memórias, porque acabo de me lembrar de "Vidas Secas" e de como um dos personagens do livro se maravilhava com uma palavra que fazia referência ao demônio - não me recordo exatamente qual porque o demônio tem muitos nomes - e o menino pensava como uma palavra tão bonita podia significar uma coisa tão feia.
Vidas Secas foi o primeiro livro de impacto que eu li. Eu posso me lembrar exatamente do dia em que eu o comprei. Havia uma exposição no shopping com o objetivo de incentivar a leitura e, como eu estava invadindo este universo, fui conferir a tal exposição com os meus pais. Eu me lembro de ter me aproximado dos livros e não conhecê-los. Posso me lembrar da voz do meu pai sugerindo Graciliano, posso me lembrar de um casal dizendo que eu tinha bom gosto ao escolher aquele livro, posso me lembrar da minha mãe dizendo que ninguém no nosso país podia se tornar um leitor - não com os livros por aquele preço. Porque eles estavam realmente caros.
Eu estava na oitava série e precisei de três dias para concluir a leitura. Lembro que levei o livro pra escola e uma amiga falou que até cego conseguia lê-lo - a fonte do texto era muito grande. Posso me lembrar que eu não entendi todas as passagens. Acho que até hoje não as decifraria.
Mas a razão disto tudo talvez seja porque eu estou com vontade de falar sobre uma vitória. Uma barreira que a gente ultrapassa. Uma atitude que defina o antes e o depois. Posso reconstruir a minha própria imagem naquela época, no início da adolescência e sentir um amor tremendo. Mas não por mim, nem por Graciliano. Nem mesmo por meus pais ou por aquele casal. Não é um amor direcionado e dedicado a alguém. É um amor pela vida. Por eu existir, pela oportunidade de manter o coração batendo, por eu não ter desistido.
E ontem mesmo meus amigos estavam falando que o número de suicídios aumenta no inverno e que a maior contradição é tirar a própria vida - se pra viver exige coragem, pra morrer então nem se fala.
E eu penso que eu quis morrer em alguns momentos. Se dependesse apenas de um controle remoto pra desligar tudo, eu teria apertado o botão. E eu juro que não tenho tendências suicídas nem desconheço o meu valor. Eu só estou sendo sincero da minha maneira. Existe uma boa razão pra ser tão difícil acabar com a própria vida.
É porque ela vale a pena.
4 comentários:
Nossa, realmente um texto magnífico! Um texto tão pessoal porém fala de momentos que são tão comuns ... Passei por isso, e conclui, se é que a gente conclui algo, que a vida é mais importante. Parabéns!
Saudade de passar por aqui. Como sempre a sua sensibilidade nos textos é extraordinária.
Abraço perfumado
Chorei =(
Muito bonito, gostei muito. Quem foi a menina que te disse das letras?=D fiquei curiosa..ehehehehe
Gostei muito.
bjukas saudosas
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