domingo, 14 de março de 2010

Uma rosa e uma azul

Quando abriu os olhos e se viu parte do mundo teve vontade de chorar. E chorou, porque o médico deu um tapa com toda a força - do mundo. Nos primeiros anos a vida parecia perfeita. A represa, o restaurante, o zoológico em miniatura, muitos carrinhos e de vez em quando bonecas - por que não? Tinha uma irmã mais velha que às vezes tinha que brincar sozinha. E a gente abre mão das coisas pra acabar com a solidão. Mas não gostava de brincar com ele porque ele só queria saber de quebrar as pernas das suas bonecas. Então passavam a brincar de carrinho pra ver se a destruição era menor. Engraçado que em uma certa ocasião viu uma outra mãe censurando o filho por ter pego uma boneca. E pensou na sua mãe dona de casa e do tanto que ela não ligava pra essas coisas. Podia brincar do que fosse, podia não saber andar de bicicleta, podia dançar e cantar o que quisesse. A mãe dele era muito boazinha - palavra que ele amava. Se algum amiguinho ficava com medo de entrar no quintal para brincar ele logo falava: a minha mãe é boazinha. Ele amava todo mundo que era bonzinho. Porque tinha um medo danado de levar bronca, de cara feia, de tapa. Adorava quando o pai chegava do trabalho com um pão de queijo enorme. Comia só metade. A irmã ia pra escola e escondia o material embaixo da cama pra ele não estragar. Um dia ele achou e pensou que não tinha dono. Foi mostrar pra irmã o que tinha acabado de achar e dizer que também poderia ir pra escola com ela. Mas não podia. Chorou tanto. No outro dia o pai comprara duas lancheiras. Uma rosa e uma azul. Uma pra irmã e outra pra ele. Mas ele ainda estava chateado e acabou jogando a pobre da lancheira contra a parede. E como se arrependeu depois ao ver a lancheira novinha e quebrada. Talvez tenha sido a primeira vez em que quis voltar no tempo. Mas como o tempo não regrediu, a sua passagem fez com que ele fosse perdoado. E desejou muitas vezes depois.

Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram

3 comentários:

Juliet disse...

Que lindo thi!
nossa que hitoria mais doce!hummm
eu me lembro das pessoas criticando minha mae por me deixar brincar com carrinhos!Alias nao tinha bonecas...ganhei uma obrigada!
dsahdushdusdhaud
Amei thi!
bjukas!

Caco disse...

Essas cenas, sensações, da infância me trazem uma nostalgia...

Thiago disse...

gente, eu cometi muitos erros neste texto. já estou arrumando, sorry.
=)