Saber
converter meus erros em sabedoria. É isso que eu quero. E já errei tanto que
até sinto um aperto no peito. Eu poderia ter sido um amigo melhor para você,
mãe. E parece que nada do que eu faço repara todos os meus arrependimentos e
desapegos. Mas eu tenho tentado, do fundo do meu coração, não ter um amor tão
preguiçoso e exigente. E vou conseguindo aos poucos ser aquilo que eu sonhei
pra você, mesmo sem saber se eu tenho esse direito. Penso em você a cada fração
de segundo. E acho que você pensa em mim também, mas não sei quais lembranças você
gosta mais.
Eu me
lembro de quando estava na primeira série e tive que fazer um cartão pro dia
das mães. Tive que pegar uma foto, escondido, pra recortar e colar no cartão.
Escrevi uma mensagem com a ajuda da professora, que também fez o acabamento do
presentinho. Ficou muito bonito, azul e com brilho. E eu mal podia me conter no
caminho de volta pra casa, só pra poder revelar o segredo e te entregar o meu
presente, que era o melhor do mundo. Você ficou tão feliz quando recebeu que eu
me lembro até hoje do seu rosto naquele momento e do quanto você me abraçou. E
essa é uma das lembranças que tenho quando fecho meus olhos e procuro por algo
bom dentro de mim. O cartão existe até hoje.
Só que meu
egoísmo e a minha maldade fizeram com que eu perdesse muito do melhor de nós.
Acho que eu não vivi ao máximo o momento em que estávamos sempre juntos. Mas eu
sei que eles foram fantásticos e que eu gostaria de viver tudo de novo, mesmo
quando as coisas não iam bem. Porque tudo foi importante pra mim, por mais que
a minha compreensão seja maior hoje em dia.
Eu lembro
também de vezes em que você não teve paciência e me julgou mal, disse e fez
coisas que eu não gostei. Mas eu te perdoo da forma mais sincera que se é
possível, pelo menos aqui na Terra. Cegamente. Acho inclusive que, se tudo isso
não tivesse acontecido, eu jamais saberia o que é perdoar e me iludiria muito
com a noção distorcida de perdão que existe nos dias de hoje. E você me perdoou
muitas vezes também, por coisas muito piores que fiz com seus filhos, seus
pais, seus irmãos, seu marido... Por desrespeito, por falta de educação e pelas
vezes em que fui muito cruel com minhas palavras e atitudes.
E acho que
você me preparou para o mundo e arcou com a dívida de me educar. Você já
provou, pelo menos pra mim, de que você fez o que foi possível e abriu mão de
muitos dos seus sonhos para que todos nós fôssemos felizes. O tempo passou e a
gente conseguiu curar muita coisa e eu sei que sempre posso te amar mais do que
penso ser capaz. E é isso que tento viver. Essa é uma das poucas certezas que tenho:
eu te amo muito. O resto todo vai passar. Menos isso.
2 comentários:
Saudade do seus post Thii!
bjuhsss
Juh
Eu acho tão tocante a forma como vc lembra da infância, das coisas com a tua mãe. Realmente esse processo de maturação até compreender a importância daquilo que já passou, bem que poderia ser mais veloz.
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