domingo, 13 de dezembro de 2009

Porque eu o admiro

Hoje em dia, o que te motiva a escrever poemas?

Ferreira Gullar – No fundo, a motivação não é constante. Tanto que escrevo muito pouco. Escrevo muito pouco. A minha poesia, costumo dizer, ela nasce no espanto. Precisa de alguma coisa que me surpreenda – que eu não tenha descoberto ainda na vida, com minha experiência de vida. Entendeu? Nasce, assim, de uma coisa que não controlo. Não posso dizer: “vou escrever dez poemas esse mês”. “Vou escrever um poema amanhã”. Não posso. Está inteiramente fora do meu controle. Tanto que posso passar um ano sem escrever nada... Eu estava oito meses sem escrever, fui fazer uma viagem para Nova York, no hotel... Cheguei lá, de repente, e aconteceu que escrevi cinco poemas numa tarde. É uma coisa nasce de descobertas da vida.

Você avalia a política nacional com otimismo?

Gullar – O Brasil corre um risco grave. O Lula, que é um sindicalista, junto com os companheiros de sindicato, está ocupando setores importantes da sociedade – fundos de pensão, as grandes empresas estatais. Eles pretendem ficar no governo para sempre, fazendo uma política de caráter sindicalista, oportunista e demagógico. Isso é um perigo, as pessoas têm que pensar nisso. Porque temos que construir um país democrático. A alternância no poder é saudável para a democracia. Não basta voto. O Bolsa Família, que antigamente atingia 4 milhões de pessoas, hoje atende a 50 milhões de pessoas. Isso é comprar voto! Não tem como controlar 50 milhões de pessoas. É neto de prefeito, filho de embaixador, todo mundo recebendo o Bolsa Família. Não tem controle. É uma coisa demagógica, feita para fazer discurso. Artifícios não resolvem problemas, tem que dar trabalhos para as pessoas, e não esmolas. A ajuda tem de ser provisória – o trabalho é que dá dignidade à pessoa. A ameaça é o Brasil virar a Venezuela. As pessoas têm que ter lucidez para colocar estadistas no governo. Quem não lê não conhece o país. Ninguém pode conhecer o país sem ler. É grave.




“Sobre a cômoda em Buenos Aires/ o espelho reflete o vidro de colônia Avant la Fête/ (antes,/ muito antes da festa!)// Reflete o vidro de Suprady, um tubo/ de esparadrapo,/ a parede em frente, uma parte do teto.// Não me reflete a mim / deitado fora de ângulo como um objeto que respira. // Os barulhos da rua / não penetram este universo de coisas silenciosas./ Nos quartos vazios / na sala vazia na cozinha / vazia / os objetos (que não se amam): / uns de costas para os outros.”

2 comentários:

defélix, disse...

esse cara é um gênio.

Ana Aitak disse...

Adoro, ainda não tinha comentado este post, embora o Lula não pretenda ficar pra sempre, o resto é muito pertinente por que nos faz questionar, e questionar tudo, principalmente a respeito da política nacional, sempre é muito importante.
Dá orgulho de ser da terrinha por causa de um maranhense desses, mil bjus Thiago.