quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mario Kart

"Há coisas que posso deixar para trás e outras que não posso".
Quem escreveu isso foi alguém que eu gosto muito.
E hoje eu tomei sorvete, porque não posso deixar de fazer isso, e não li, porque isso eu posso deixar para trás e retomar outro dia.
Hoje eu tentei levantar às nove, mas só acordei às 11. Isso eu não poderia deixar para trás, mas, só pra constar, eu levantei com sono de quem despertou às 6. É que queria aproveitar melhor esses últimos dias de férias. Amanhã tento acordar às 10 pra ver se dá certo.
Hoje eu não comprei minha passagem e não fui ao oftalmologista, porque isso eu posso deixar para depois. Eu joguei videogame e comi 3 sanduíches. Isso eu não posso adiar.
Consegui configurar o modem DSL, porque isso eu não posso deixar de fazer. Mas ainda não arrumei o wireless. Isso eu deixo pra depois. E para outra pessoa.
Hoje eu fiz exercícios para ficar mais magro. Isso eu poderia deixar para trás, mas seguramente eu vou adiar essa atividade quando for realmente preciso. Então uma coisa acaba compensando a outra e aquilo que supostamente eu poderia fazer depois, na verdade, está atrasado há tempos.
Hoje eu lamentei alguns dos meus resultados no mestrado. Não posso deixar isso para amanhã. Mas comemorei outros. Isso é inadiável, mas tende a se repetir, caso eu me esqueça um dia de festejar.
E pra terminar acho que hoje eu não gostaria de ser outro alguém, de estar em outro lugar e de ter outros recursos. Hoje eu gostei de ser quem eu sou, nesse tempo e nesse espaço. E por mais que seja um clichê eu dizer que isso não se pode deixar para trás...

É isso então que eu digo.

domingo, 24 de julho de 2011

Ser tão como parece

Logo quando cheguei na casa dos meus pais, que sem surpresas, também é minha, fui tomar um café e a dona Maria, que é a nossa ajudante, veio conversar sobre tudo. Perguntou como eu estava na minha casa nova e eu disse aquilo que sempre digo:
- Me acostumando ainda.
E ela continuou:
- Quando a sua irmã foi embora eu senti tanta falta. Senti falta de você também. Mas é que ela ficava aqui mais tempo e também quando todos viajavam. Daí ela veio se despedir de mim e deu uma vontade de chorar.
E eu não soube o que dizer. Abri a boca pra falar algo que reconfortasse e transformasse tudo em esperança, mas não consegui. Acho que me faltou humildade. E me pegou desprevenido também. E eu tentei buscar algo na mente que completasse aquilo tudo e que fosse digno à altura, mas eu descobri que eu não tinha isso em mim naquele momento.
Acho que o carinho que ela sente e também a sua humildade são sempre constantes. Fazem parte.
Devo confessar que em mim não é assim, por isso não soube como lidar com aquele diálogo. Eu tenho essas mesmas qualidades, mas vejo que são momentâneas. De forma que eu sinto falta às vezes.
É bom saber que há outras vidas pulsando na gente. Eu gosto tanto de mim quando estou aqui. Apesar dos momentos sem qualidades. Aqui eu encarno muitos deles. Sou tão eu mesmo que até me surpreendo.
Estou vivendo tanto nesses dias que, sinceramente, estou até mais gordo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Outro Eu

Estava no ponto de apoio de uma empresa de ônibus, que é uma parada específica para a limpeza e troca de motorista - quem faz viagens longas sabe do que eu estou falando - e todo esse processo demora demais, cerca de 50 minutos. E esse ponto é basicamente uma minirrodoviária, com algumas plataformas, sanitários, lanchonete e bancos para poucos. E é aí que eu quero chegar.

Assim que desembarquei fui logo sentando num dos bancos extensos que contornavam as plataformas, parecido com aqueles de igreja. E fiquei lá um tempo, meio desarcordado, esperando que viesse ao menos uma vontade ir ao banheiro.

E veio.

Só que quando eu voltei, no lugar em que eu estivera sentado, havia duas senhoras. Então não sei ao certo o que me deu, se foi ganância, posse ou loucura, eu simplesmente cheguei em frente as duas e bati minha mão no ombro de uma delas, numa espécie de chega-pra-lá e disse:


- Abre um espaço aí que eu quero sentar, fazendo um favor.


Uma delas deu uma afastadinha e uma terceira mulher, que nada tinha com a história, também.

E ficamos sentados ali, todos apertadinhos.

E naquele espaço limitado eu comecei a pensar que, meu Deus, como às vezes a gente não é a gente.

Porque se eu fosse eu naquele momento, eu teria ficado de pé. Ou procurado outro lugar para sentar, até porque o local não estava tão cheio assim.

Mas no fundo também achei ruim o fato de uma das mulheres não ter nem se movido. O banco não era dela e, como vocês já podem sentir, ele era meu.