sábado, 15 de novembro de 2008

Eu por mim mesmo IV

Eu sou mestiço

Os pais da minha mãe são nordestinos. A minha mãe, espiritualmente baiana, acabou nascendo no Paraná (1). Se eu fosse filho só da minha mãe, eu diria que eu sou descendente de brasileiros. Ora, por que não? O Brasil também faz parte do mundo, tem a sua cultura, tem o seu povo e tem até petróleo.
Mas acontece que eu sou filho do pai e da mãe. Os pais dele nasceram no interior de São Paulo(2), filhos de japoneses. O meu pai acabou nascendo em Maringá. Pelo que você pode notar, ninguém nasceu onde supostamente deveria nascer.
Pau de Arara vem, vai e um dia meu pai e minha mãe se dão conta de que vivem na mesma cidade. Naviraí. Fica no Mato Grosso do Sul(3). Eles trabalhavam na mesma empresa. Meu pai era agrônomo e minha mãe era secretária. Casaram e coisa e tal e um dia a minha irmã nasceu. Os meus parentes dizem que ela era uma criança muito inteligente, falava de tudo, entrava no msn. Opa, essa eu inventei. Dois anos depois, eu nasci. Eu imagino que eu era bem comum. Um neném comum, porque meus parentes nunca falaram nada de mim. Sete anos depois eu tive mais um irmão, e logo a gente se mudou pro Mato Grosso(4). Hoje em dia, eu moro no Paraná(1) e acabei de perceber que eu completei um ciclo de estados. Das idas e vindas, de todos os lugares, a pergunta mais freqüente é:

- Você é mestiço?

Eu sou. Uma mistura de... brasileiro com japonês 'abrasileirado'. Nesses formulários, às vezes ousam perguntar a cor da minha pele, como se isso fosse importante. Perguntar se eu estou bem, se eu fui bem na prova, se me desrespeitaram em algum órgão público, ninguém pergunta... mas, voltando, eu não sei o que responder porque eu sou de uma cor que não tem nome. "Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores". E pouco me importo com a minha cor. Tentam associar a nossa cor com tudo. Principalmente com coisas ruins. Acho que é por isso que eles perguntam. Eles gostam das humilhações cotidianas. Diz ai quanto tempo a gente fica sem ser humilhado? É pisar o pé na estrada pra você ouvir uma coisa que não te agrada. Falam mal da tua cor, do teu povo, da tua visão política, de tudo. Mas no fundo, a gente é muito humilhado porque a gente se define demais. A Clarice Lispector me falou uma vez que só é humilhado quem não é humilde. Eu demorei pra aceitar essa verdade, mas enfim, ela está se concretizando.

Então, de uma forma resumida, eu digo que sou um mestiço tentando ser humilde de verdade.
Ser mestiço, no fundo, é uma forma de não ser.
Ser humilde, também.

4 comentários:

Ana Aitak disse...

Obrigada, fofura é isso tudo.

Ana Aitak disse...

E a propósito, jeito mais bonito de contar sua origem...

Juliet disse...

Teu sorriso eu vou deixar na estante para eu ter um dia melhor
Sei nosso primeiro abraço, sei nossa primeira dor
Nosso canto será o mais bonito Mi Fá Sol Lápis de cor
A gente é tão pequeno, gigante no coração!!

Thii!!!!
Ah nada nao...
bjukasss

Fenix disse...

Que bonita a sua história! Acho legal essas misturas que existem no Brasil.
Já para mim as perguntas mais frequentes são: Você é japonesa? Você fala japonês? Você já foi para o Japão? De tanto ouvir essas perguntas, acabei indo para o Japão. Agora falta falar japonês. Virar japonesa, nunca....hauhau