Ontem, antes de dormir, me veio uma antiga lembrança envolvendo uma leonina de 8 de agosto, um irmão mais novo que ainda se maravilhava com as novidades do mundo, um vilão, uma corrida e um exemplo.
Eu, com 4 anos, e minha irmã, com 6, acompanhávamos minha mãe quando, nos finais da tarde, ela caminhava numa velha e pequena pista de pouso de aviões particulares, já desativada.
Numa dessas tardes, a minha irmã encontrou um dente-de-leão, aquela flor que se desfaz com o vento. Eu estava por perto no momento em que ela o soprou, imediatamente desmanchando-o por inteiro. Eu nunca tinha visto aquilo. Maravilhado e, ao mesmo tempo, enciumado, pedi para que ela encontrasse uma outra flor para que eu também pudesse desmanchá-la. No entanto, havia pouquissímas flores como aquela perto de onde nos encontrávamos. Por isso, eu comecei a fazer muita birra. Mas fazer o quê? 'Se acabou, acabou!', não era assim que a mãe falava?
Por falar em mãe, nós estávamos distantes dela. Então recomeçamos a caminhar e você, muito esperta, viu lá longe um dente-de-leão que, para os meus olhos de criança, chegava a brilhar. E eu, sem hesitar, devo ter berrado 'Kari, corre, vai lá pegar!'. Você começou a correr para trazê-lo para mim, mas um outro garoto, maior que você, percebeu que você buscaria a flor e começou a correr para pegá-la também. De repente, vocês estavam apostando uma corrida em busca do dente-de-leão, a sonhada medalha de ouro. Naquele instante, o meu coração de criança começou a torcer muito por você, que corria o mais rápido que podia para alcançar a flor. Eu estava eletrizado, sustentando uma fé imensa de que você traria o dente-de-leão para mim e eu, num sopro de vitória e contemplação, iria descobrir a sensação de desfazê-lo. Eu me lembro de ter gritado 'Vai, corre!!!'. Eu era um torcedor mirim com uma esperança gigante. Já tinha alguma noção de justiça e julguei que aquele menino, por ser grande, já devia ter soprado flores antes. Mas eu não. Era a minha vez então...
Mas não foi assim.
O garoto era muito veloz e, por muito pouco, chegou na sua frente. Alcançando a flor, ele apenas a destruiu com as mãos. Acabou a corrida, acabou a flor, nem existiu o sopro. Sabe a única coisa que restou?
A torcida.
Eu fiquei tão entusiasmado com a corrida, que a birra passou. Não te culpei, você não se lamentou. Apenas fomos para perto de nossa mãe. Depois desse episódio, você correu muitas outras vezes por mim. De lá pra cá, também tive que aprender a correr por conta própria e a descobrir o sabor de vitórias e derrotas. E de tudo o que eu posso guardar, você é o meu grande exemplo. Eu me orgulhei muito de você naquele dia, tanto que nunca o esqueci. E eu continuo me orgulhando. O tempo passou, mudamos de cidade, ganhamos outro irmão... Talvez você possa pensar um dia que ninguém está torcendo por você, que as coisas não vão melhorar, que tudo está acabado. Por precaução, sempre tenha em mente: você é tudo pra mim. Os momentos de tristeza são como aquele dente-de-leão. Duram muito pouco.
Fim das Férias
Eu, com 4 anos, e minha irmã, com 6, acompanhávamos minha mãe quando, nos finais da tarde, ela caminhava numa velha e pequena pista de pouso de aviões particulares, já desativada.
Numa dessas tardes, a minha irmã encontrou um dente-de-leão, aquela flor que se desfaz com o vento. Eu estava por perto no momento em que ela o soprou, imediatamente desmanchando-o por inteiro. Eu nunca tinha visto aquilo. Maravilhado e, ao mesmo tempo, enciumado, pedi para que ela encontrasse uma outra flor para que eu também pudesse desmanchá-la. No entanto, havia pouquissímas flores como aquela perto de onde nos encontrávamos. Por isso, eu comecei a fazer muita birra. Mas fazer o quê? 'Se acabou, acabou!', não era assim que a mãe falava?
Por falar em mãe, nós estávamos distantes dela. Então recomeçamos a caminhar e você, muito esperta, viu lá longe um dente-de-leão que, para os meus olhos de criança, chegava a brilhar. E eu, sem hesitar, devo ter berrado 'Kari, corre, vai lá pegar!'. Você começou a correr para trazê-lo para mim, mas um outro garoto, maior que você, percebeu que você buscaria a flor e começou a correr para pegá-la também. De repente, vocês estavam apostando uma corrida em busca do dente-de-leão, a sonhada medalha de ouro. Naquele instante, o meu coração de criança começou a torcer muito por você, que corria o mais rápido que podia para alcançar a flor. Eu estava eletrizado, sustentando uma fé imensa de que você traria o dente-de-leão para mim e eu, num sopro de vitória e contemplação, iria descobrir a sensação de desfazê-lo. Eu me lembro de ter gritado 'Vai, corre!!!'. Eu era um torcedor mirim com uma esperança gigante. Já tinha alguma noção de justiça e julguei que aquele menino, por ser grande, já devia ter soprado flores antes. Mas eu não. Era a minha vez então...
Mas não foi assim.
O garoto era muito veloz e, por muito pouco, chegou na sua frente. Alcançando a flor, ele apenas a destruiu com as mãos. Acabou a corrida, acabou a flor, nem existiu o sopro. Sabe a única coisa que restou?
A torcida.
Eu fiquei tão entusiasmado com a corrida, que a birra passou. Não te culpei, você não se lamentou. Apenas fomos para perto de nossa mãe. Depois desse episódio, você correu muitas outras vezes por mim. De lá pra cá, também tive que aprender a correr por conta própria e a descobrir o sabor de vitórias e derrotas. E de tudo o que eu posso guardar, você é o meu grande exemplo. Eu me orgulhei muito de você naquele dia, tanto que nunca o esqueci. E eu continuo me orgulhando. O tempo passou, mudamos de cidade, ganhamos outro irmão... Talvez você possa pensar um dia que ninguém está torcendo por você, que as coisas não vão melhorar, que tudo está acabado. Por precaução, sempre tenha em mente: você é tudo pra mim. Os momentos de tristeza são como aquele dente-de-leão. Duram muito pouco.
Fim das Férias
Início da Saudade
11 comentários:
Tudo lindo, texto, fotos e esse sentimento que você tem...Bju
que lindo,que história linda...era como se eu pudesse está presenciando cada cena..adorei!
Maravilhada com as palavras. =*
Linda história...adorei!
Nada como viver cada momento!
Nada como tê-los na lembrança para assimilar simbolismos úteis na vida.
Lindo...só isso que posso dizer!
Beijos
Chorei novamente... Muito lindo!!!
Nossa amigo que bonito o texto.. Queri saber escrever assim!!
Me lembrou o terreno aqui da frente de casa.. Tem muitos dente de leão ali. Eu gostava muito de assoprar também :)
Quando for ai te levo uns ramos! hehehehe
ABraçoss
Ana, Fer, Sara, Alê: Obrigado pela presença e pelo carinho nos comentários. A mensagem desse texto é para todos os que leram, vamos continuar fortes, encarando as nossas corridas, fazendo parte da torcida, prontos para tudo. Sei que vcs também tem as pessoas que correram por vcs e sei que vcs levam essas pessoas dentro dos vossos corações. Ana, sempre presente, obrigado por ter lembrado das fotos hehehe, dessa vez elas ficarm boas. Fer, tem escrito muito e maravilhosamente bem, gosto do fato de sempre entrar no seu blog e ter algo novo para ler. Sara, você com certeza não se lembra, mas reencontrei o link do seu blog pq vc comentou em um texto que eu fiz há um bom tempo, chamado 'Da fila do mercado', acho que um dos que eu mais gosto por aqui. Te resgatei e adorei rever o seu blog! Alê, você é minha visitante mais novinha, fico muito feliz por vc estar acompanhando as postagens. Percebo pelo seu blog e pelo seu perfil que vc tem muita fibra e determinação, estou adorando conhecer aquilo que vc escreve!
Susanita: eu vou entender o seu choro como algo bom para nós dois hehe, pq tb me comovi muito na hora de escrever o texto, de uma forma muito boa. Tenho certeza que vc tbm, por ser muito próxima de mim. Estou com saudade das suas postagens, volte assim que puder, ok? Não sei se percebeu, mas vc é a recordista por eqto nos comentários. Tem um quadro ali do lado que diz isso. Adorei!
Ricardo: Sabe que tive poucas oportunidades de desfazer outros dentes-de-leão (ou seria dentes-de-leões? ahushuash depende né, fica dentes-de-leão pq um só leão tem vários dentes). Bom, pediria pra vc trazer mesmo, mas eles chegariam aqui destruídos. Então, pode vir sem eles, mas não deixe de nos fazer outra visita amigo!
Thiago, que trem lindo é esse?
Sua irmã deve ter muito orgulho de você também, assim como você tem dela. Massa demais o que você escreve.
Caco, fico muito feliz por você ter gostado do texto. Tenho acompanhado o seu blog e me identifico muito com ele também! Bom, imagino que ela também se orgulhe bastante, eu tenho me comportado ultimamente ;) hehehe
Abraços =)
RE: É um dos meus preferidos também especialmente por causa de como me senti depois que o escrevi e quando o releio. E também pelo lindo recado deixado pelo Guilherme naquele texto, vc viu?
Ah e sabe o que me encantou de cara quando vim aqui no início (além da sua escrita, claro) a apresentação no seu perfil: "estou entre placa e disco voador", eu amo essa frase rsr.
E ainda, vi hoje que estou com medalha de bronze no ranking dos seus comentários e avante... kisses
Que texto incrivel, uma homenagem maravilhosa pra sua irmã. A flor foi o de menos naquele momento, e o que valeu por tudo foi o significado da corrida e da sua torcida!
Parabéns pelo texto.
Amei!
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