sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Aleatório

É difícil escrever nas férias. Aliás, nos dias mais conturbados, com provas, projetos e trabalhos, me dá uma vontade louca de escrever, de tentar esquecer. Esquecer o quê? Não lembro, não sei dizer (começo a acreditar que isso realmente funciona). Esse espaço me faz muito bem e tem revelado coisas que eu ainda não sei se pertencem a mim. Sentimentos emprestados dos vários Thiagos descartáveis que os segundos insistem em matar.
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Uma coisa que eu aprendi é que eu não devo me sentir dono dos textos que eu fiz. Na verdade, não devo me sentir dono porque não o sou, de fato. Quando me vem aquele desejo de apagar alguns textos velhos, que nem combinam mais com meu estado de espírito, baixa uma luz que clareia a razão e me manda parar, dizendo: você não tem esse direito. Os Thiagos do passado, mesmo ausentes, devem ser respeitados. E é bom mater as lembranças. Talvez algum dia eu sinta saudade.
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Você já teve a sensação de ler algum escrito seu e dizer "como isso é ridículo!". E já se sentiu frágil por saber que alguém pode ler aquilo que você escreve. Esses dias eu me vi com medo de algum conhecido ler os meus textos e pensar alguma coisa de mim. Coisa desagradável, é claro. Depois eu pensei "isso é mais ridículo que os textos que eu quis apagar". Que digam, que pensem, que falem.
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Só diversificando, ontem eu cansei do quarto, fui dar uma volta na sala e vi uma cena da novela em que a mãe falava pra filha algo do tipo "minha filha com esse cabelinho colorido, toda moderninha e com esse pensamento velho... sabe o que eu descobri? que eu não tenho preconceito... e eu que me achava careta!". Eu não sei ao certo sobre o que elas estavam falando, mas eu adorei. Esses jovens com tantos penduricalhos, cabelinho arrepiado e/ou bagunçado ou comprido e/ou colorido, camiseta do Che Guevara, do Seu Madruga, enfim... independente do rótulo, qual é a qualidade do produto? Eu digo isso porque eu me vejo tão conservador e moralista às vezes... chega a dar nojo. E eu começo a achar que isso não é algo exclusivo meu. Eu não tenho posses, logo, isso deve ser comum.
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Quando eu tinha uns poucos anos minha mãe cantou uma música que era assim " e joga bosta na Geni, ela é feita pra apanhar..." e eu fiquei horrorizado. Como alguém canta uma coisa dessas? Não acreditava que a música existisse. Na crueldade da dúvida, minha irmã, também perturbada com a afronta da música, foi perguntar pro meu pai se ele conhecia a canção. Pra quê? O meu pai não só confirmou, como cantou todo o trecho "Joga pedra na Geni. Joga bosta na Geni. Ela é feita pra apanhar. Ela é boa de cuspir. Ela dá pra qualquer um. Maldita Geni!". Eu não acreditava e nem sei o porquê disso. Moralismo, talvez. Hoje eu acho tão estúpida a minha incredulidade.
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E eu acho que criança tem que saber de tudo mesmo. Tem que ter as respostas verdadeiras. A gente foi criado naquela coisa de faz de conta, de cegonha, de tv censurada, música dos dedinhos e a conseqüência está ai: Somos uns tapados! Devemos viver em um mundo revelado.
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Mas faz um tempo em que não se fala em revelação, ainda mais em tempos de câmera digital e coisa e tal. Somos todos moderninhos, afinal.

4 comentários:

SUSANA disse...

Lindo! Eu já quis apagar vários textos meus, mas tive a mesma sensação que você descreveu. Acho que você (ou pelo menos um Thiago aí) é meu alter ego. rsrsrs

Ana Aitak disse...

Acho que se eu não tivesse feito uma lei pra mim, texto publicado no blog não posso excluir depois, publicado, intocado (exceto pra alguns ajustes ortográficos gritantes rs) já teria apagado vários, nem parece que escrevemos e a vergonha aparece mesmo, vez em quando. Mas adorei o que vc disse respeitemos quem os escreveu, naquele momento era só aquele texto que podiamos escrever, o resto é possibilidade. Bju grande, como sempre a identificação é recíproca.

Quita disse...

Olá Thiago!

Desde já.. obrigada pela visita!
Tens aqui um belo texto. Falas, em outras palvras, do que é ser "blogueiro" :)

Adoro o meu espaço também, é o meu refúgio, onde guardo o meu momento de paz... de risos e, porquê não, de textos ridículos!?

Beijinhos... continua!!
E volte sempre!

Juliet disse...

"Somos uns tapados!" hasduashduas amei isso!! Sejamos entao uma ilusao da modernidade.
Fragilidade?O estranho eh que ela esta em todos os lugares....somos frageis em todas as ocasioes, frageis qndo atravessamos a rua, frageis qndo resolvemos comer aquela coxinha gordurosa, porem deliciosa, na esquina.Somos frageis...quase todo tempo, o que muda, é a nossa percepçao.

Nossa tava com saudade do blog!
bjuh Thi!!