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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Os Três Presentes - Parte 3
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domingo, 28 de dezembro de 2008
Os Três Presentes - Parte 1
56 – O desejo de sofrer – Quando penso no desejo de fazer alguma coisa que agite e estimule incessantemente milhões de jovens europeus, os quais não podem suportar o tédio nem a si próprios, dou-me conta de que deve haver neles um desejo de sofrer, seja como for, a fim de extrair desse sofrimento uma razão provável para agir, para fazer grandes coisas. É preciso sofrimento! Daí o clamor dos homens políticos, daí as inúmeras “crises” falsas, fabricadas, exageradas, de todas as categorias possíveis, e o cego ardor que se põe em acreditar nelas. Essa juventude exige que seja de fora que lhe venha ou lhe apareça: não a felicidade, mas a infelicidade; e a sua imaginação ocupa-se já em lhe dar antecipadamente as proporções de um monstro. Se estes sedentos de sofrimento sentissem em si força bastante de interiormente fazer bem a si mesmos, para fazerem alguma coisa a si próprios, saberiam também criar interiormente uma miséria altamente pessoal. Suas invenções poderiam ser então mais refinadas, e suas sensações trazer consigo o som da boa música; ao passo que agora, enchem o mundo com seu grito de agonia e, muitas vezes, por conseqüência, do sentimento de agonia! Não sabem fazer nada de si próprios... é uma função disso que rabiscam na parede a infelicidade dos outros! E de mais outros, até o infinito!... Peço-vos perdão, meus amigos: tive a audácia de rabiscar a minha própria felicidade na parede.
sábado, 27 de dezembro de 2008
Don't let me free
Tears... I have never seen yours, so, they never existed or I was not able to see them in the darkness of our passion.
It's my fault. I didn't trust your feeling, only mine. I just wonder do you miss me... or just think about me for some seconds, at least. How am I in your thoughts? Are my words stronger than my beauty? Do you think in me when you are kissing another?
What I learned with you? The colors in a lover's eyes are not real. They are magic, not real.
____
domingo, 21 de dezembro de 2008
Tempo de Reclusão
* Presente de Natal de Ana para este jovem solitário! Gosto muito, do selo e da amiga.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Postiço
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Desejo
literalmente
fazer uma fogueira
e incendiar você
^^
bjosnãomeliga
Lágrimas Secas
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Estatística sem Voz
domingo, 14 de dezembro de 2008
Vulto na mente
sábado, 13 de dezembro de 2008
o Sol não nasceu hoje
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Leve romance
animado refrão
infinito era o tempo
pra mais uma canção
e eu
que nem sei dançar
nos seus braços descobri
que pode afastar o corpo
mas não leve seu riso daqui
e essa estranha sensação
aqui dentro de mim?
coração em pedaços
o baile chegou ao fim?
mas no instante seguinte
a música recomeça
no estômago
as borboletas insistem em pousar
vão se juntando
também parecem dançar
no ritmo da vida
assim como eu
elas só querem ter um par
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Eu por mim mesmo V
... você acha que seria mais feliz se fosse como os outros garotos? ...
domingo, 7 de dezembro de 2008
algemas abertas
que você fique longe de mim
não para todo o sempre
só nestes dias ruins
em que eu digo coisas que
rasgam os teus ouvidos
e o sangue que escorre
alimenta o meu desejo de te ver sofrer
não que eu seja mau
é que você me faz assim
com essa mania de me possuir
e descartar
e reciclar
e esperar que eu finja que nada aconteceu
os meus escudos
onde você escondeu?
e eu estava vestido
em uma alma nua
frágil ao tempo
ao sopro de vida, ao vento
as palavras silenciaram
brindamos ao puro constrangimento
de sermos tão irracionais
eu não queria te ver
dizer nunca mais
você bateu a porta
e ao ouvir teus passos distantes
eu rezei baixinho
mas de olhos abertos
para que você voltasse
ser amante então é isso:
orar de olhos abertos
sábado, 6 de dezembro de 2008
Do livro 'Mulheres de Cabul', de Harriet Logan
_________________________________________
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Aleatório
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Anfíbio jeito de ser
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Não há saudações
... na realidade paralela, em que não havia esposa nem filhos nem formalidades, você me completava. Não por você ser importante. Talvez fosse exatamente o contrário. A sua insignificância me tornava supremo. Ver você ajoelhada aos meus pés implorando alguns tostões despertava em mim a verdadeira grandeza de ser um homem. Mais do que isso, despertava o meu prazer em ser um homem poderoso. Você era uma das minhas posses. Abandono os seus beijos e o seu corpo porque há tantas outras como você no mercado e também porque a vida de pai de família, executivo e jogador de golf me chama. E deste lado, felizmente, não há espaço para as mulheres da sua classe...
... há tantas outras mulheres como eu rondando por ai, de fato. Mas eu sei que a demanda de vagabundas não atende a todos os velhos vadios que jogam golf no final de semana. Obrigada por ter deixado as minhas contas pagas. Esquecer um homem sujo como você é tão fácil... Talvez não me lembre do seu nome ao postar essa carta. E o "senhor de respeito, casado, com filhos", esquecerá fácil as curvas do meu corpo? ...
amantes são para sempre:
... te vejo mais tarde ...
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
sábado, 29 de novembro de 2008
Após o sinal,
...
_ Alô, Fernanda?
_ Não, Juliana.
_ Serve também.
_ Hmm...
_ Você procura um amor que goste de cinema?
_ Não, eu procuro um amor que goste de mim.
Fim.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
terça-feira, 25 de novembro de 2008
E quem segura o ponteiro do relógio?
E se hoje é meu aniversário, eu vou falar de quem? Da minha mãe e do meu pai, é claro.
Ela me amou antes mesmo de me ver. A nossa mãe não sabe nada da gente. Isso, claro, antes da gente nascer. Depois que a gente nasce, ela sabe de coisas que a gente jamais imaginaria que ela pudesse saber. Mãe, você é tão inteligente. E você me censura quando eu não estou certo. Inclusive, você é o meu conceito daquilo que é certo. Eu já mordi as suas pernas enquanto você tentava cozinhar pra mim, eu já te arranhei inteira, eu já te machuquei, falei coisas que você não gostou e você me ama mesmo assim. Todo dia. Como pode?? Eu tenho certeza que eu não fui a criança que você gostaria que eu tivesse sido. Mas desde então eu tenho mudado por você, e por todo mundo que me ama. Quando eu penso o quanto é difícil aceitar as minhas limitações eu acabo lembrando que você também deve saber dos meus sofrimentos. E isso deve doer tanto em você. Se eu te perguntar hoje se eu sou o filho que você queria ter, você com certeza irá dizer que sim. Mas, sabe, eu não sou o filho que você merecia. Eu acho que você merece tanto. E eu me perco ao tentar reconhecer se isso é humildade, amor ou verdade. Eu confio tanto em você. Lembra que, quando eu queria um brinquedo, eu falava pra você pedir pro pai, no meu lugar...
E o pai, está na fazenda? Eu sinto tanta falta dele. Eu quebrava todos os meus brinquedos. E ele arrumava. Eu me sentia tão seguro em brincar por causa disso. Se alguma coisa estragava, ele dava um jeito. E até hoje as coisas são assim. Ele resolve tudo pra mim. As minhas contas estão todas no nome dele, as minhas compras também. E a gente é tão parecido... Quando eu era mais novo, eu não entendia as opiniões dele sobre política, religião, trabalho. Deus, hoje eu vejo que as opiniões dele são as minhas. Sem mudar um pingo no "i". Eu achava que ele era tão bravo quando eu era criança. Talvez fosse. Hoje ele está tão mais calmo. Eu também. Pai, se eu fosse mais maduro há alguns anos, eu teria me apaixonado por futebol, só pra gente poder conversar mais.
sábado, 22 de novembro de 2008
Dicionário Incompleto dos Sentimentos Perdidos
O sentimento não pode ser convertido totalmente em palavra.
Mas, uma parte do conceito sempre pode ser expressa, ainda que as falhas sejam inevitáveis.
Amar é deixar o egoísmo na porta, junto com os calçados imundos, antes de invadir a casa.
É deixar de ser inteiro. E passar a ser metade.
Por ser assim, amor não combina com liberdade.
Basicamente, viver é fazer escolhas.
O que, de fato, não é fácil.
O silêncio dos traídos, o canto dos saciados.
Tudo, então, é amor. É sintoma de amor.
E eu, que pensava que não amava, me vejo tomado por você.
Eu compartilho o abstrato, o concreto, o meu medo,
o meu corpo imerso em desejo.
Eu compartilho aquilo que vejo.
Eu não alimento as tuas feras
para que enfim possa ser devorado por elas.
Eu te amo.
Por vezes calado.
Mas sempre te amo.
domingo, 16 de novembro de 2008
sábado, 15 de novembro de 2008
Will you still love me tomorrow?
...
Amar é ter medo de perder.
Is this a lasting treasure
Or just a moment's pleasure?
Can I believe the magic of your sighs?
Will you still love me tomorrow?
Tonight with words unspoken
And you say that I'm the only one, the only one, yeah
But will my heart be broken
When the night meets the morning star?
Eu por mim mesmo IV
Os pais da minha mãe são nordestinos. A minha mãe, espiritualmente baiana, acabou nascendo no Paraná (1). Se eu fosse filho só da minha mãe, eu diria que eu sou descendente de brasileiros. Ora, por que não? O Brasil também faz parte do mundo, tem a sua cultura, tem o seu povo e tem até petróleo.
Mas acontece que eu sou filho do pai e da mãe. Os pais dele nasceram no interior de São Paulo(2), filhos de japoneses. O meu pai acabou nascendo em Maringá. Pelo que você pode notar, ninguém nasceu onde supostamente deveria nascer.
Pau de Arara vem, vai e um dia meu pai e minha mãe se dão conta de que vivem na mesma cidade. Naviraí. Fica no Mato Grosso do Sul(3). Eles trabalhavam na mesma empresa. Meu pai era agrônomo e minha mãe era secretária. Casaram e coisa e tal e um dia a minha irmã nasceu. Os meus parentes dizem que ela era uma criança muito inteligente, falava de tudo, entrava no msn. Opa, essa eu inventei. Dois anos depois, eu nasci. Eu imagino que eu era bem comum. Um neném comum, porque meus parentes nunca falaram nada de mim. Sete anos depois eu tive mais um irmão, e logo a gente se mudou pro Mato Grosso(4). Hoje em dia, eu moro no Paraná(1) e acabei de perceber que eu completei um ciclo de estados. Das idas e vindas, de todos os lugares, a pergunta mais freqüente é:
Eu sou. Uma mistura de... brasileiro com japonês 'abrasileirado'. Nesses formulários, às vezes ousam perguntar a cor da minha pele, como se isso fosse importante. Perguntar se eu estou bem, se eu fui bem na prova, se me desrespeitaram em algum órgão público, ninguém pergunta... mas, voltando, eu não sei o que responder porque eu sou de uma cor que não tem nome. "Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores". E pouco me importo com a minha cor. Tentam associar a nossa cor com tudo. Principalmente com coisas ruins. Acho que é por isso que eles perguntam. Eles gostam das humilhações cotidianas. Diz ai quanto tempo a gente fica sem ser humilhado? É pisar o pé na estrada pra você ouvir uma coisa que não te agrada. Falam mal da tua cor, do teu povo, da tua visão política, de tudo. Mas no fundo, a gente é muito humilhado porque a gente se define demais. A Clarice Lispector me falou uma vez que só é humilhado quem não é humilde. Eu demorei pra aceitar essa verdade, mas enfim, ela está se concretizando.
Então, de uma forma resumida, eu digo que sou um mestiço tentando ser humilde de verdade.
Ser mestiço, no fundo, é uma forma de não ser.
Ser humilde, também.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
sete vírgulas, uma aposta, nenhum ponto
e pelas vezes em que você não sorriu
você pode perdoar a nossa saudade?
me perdoe, mas eu já vou indo
antes de você responder
queria muito te ouvir
mas quem tem tempo
hoje em dia?
sem tempo, sem hoje, sem dia
sem ouvir, sem falar, sem sentir
sem sentido, sem voz, sem grito
é o sussurro do desespero
de não saber viver
é o desconexo
que reflete
em tudo o que eu
escrevo
está no livro que eu
leio
o meu caminho
é o seu passeio
e justo na tarde em que
eu não estava em casa
você veio
o desencontro é um propósito
que diminui a dor
a dor é o medo
a dor de verdade
é um segredo
e os nossos segredos
e a nossa conta no banco
tudo vira um texto
o mais importante
é que tudo pode mudar
e o mais bonito
é que esse texto não
precisa ter um
ponto
final
domingo, 9 de novembro de 2008
O Ted, a Ju e o Thi
O Ted é o mais novo animal de estimação da Ju.
2. A Ju
A Ju é a mais velha amiga de estimação do Thi.
3. O Thi
O Thi, pelo que parece, sou eu.
4. A informação pertinente
A população de gatos é a segunda maior população de vertebrados de Rondonópolis, ficando atrás apenas dos hipócritas. A mãe do Ted teve muitos filhos, muitos partos e muitos carnavais.
5. Os carnavais
Para os brasileiros, é uma festa popular que acontece uma vez por ano. Porém, para gatos e baianos a coisa não é bem assim.
6. O histórico
Eu nunca gostei de gatos.
7. A surpresa
Eu adorei o Ted.
8. O motivo
O Ted é um amor de pessoa... digo, de gato.
9. A reciprocidade
O Ted também me adorou (por 8 segundos que, por coincidência, é o tempo que o peão deve ficar em cima do touro para tentar ser campeão)
10. O peão
Fica pra uma outra história. Este espaço já está pequeno demais pra mim, pra Ju e pro Ted.
11. A lembrança e a analogia
Quando eu era criança, um gatinho me arranhou. E uma outra vez, a minha vó estava limpando um peixe e deu bobeira. Tinha gato por aquelas bandas. Gato ladrão. A vó ficou danada de brava com o gato. E com todo mundo. Deve ter, em algum momento, descontado a raiva em mim, e eu fiquei bravo com o gato, porque ficar bravo com a vó era pecado (ainda é rs!). Então, passei a não gostar de gato. Passei a odiar milhões de gatos por causa de dois bichos safados. Agora, imagina se ao invés de gatos, isso tudo se passasse com pessoas. Assim mesmo, com gente de verdade. Talvez tenham sido 10 ou 20 ou 30 ou (...) pessoas que já me chatearam na vida (e olha que eu nem tenho muitos anos). Foram muitas vezes. Passei a odiar todas as pessoas do mundo? Não. Passei a odiar as 10 ou 20 ou 30 (...) pessoas infelizes? Melhor não responder (rs!).
A gente sabe a dor que é levar a culpa por coisas que a gente não fez. Que criança nunca foi injustiçada e acabou levando uma bronca ou uma chinelada por causa da arte do outro. Quanto ao mundo dos adultos, eu prefiro não exemplificar.
12. O Perdão
Perdão é uma palavra forte. E não se encaixa bem nesse texto. Vamos à próxima tentativa.
13. A reconciliação
Um gatinho arteiro de olhos azuis fez com que eu me sentisse muito bem. E o melhor, nem pediu nada em troca. O justo é que, se por causa de um gato você passa a odiar todos, basta um gato para que você passe a perdoar todos os outros.
14. A analogia ao avesso
Basta conhecer uma pessoa boa no mundo para perdoar todas as outras?
15. A resposta à pergunta acima
Fica por sua conta ;]
Sobre o que não se pode comprar
mas sabia do frio que sentiria sem elas nas noites de inverno.
Ele não vivia no país mais justo,
mas para as noites de chuva, havia o teto;
para as tardes de calor, a varanda.
Ele não desfrutou as mais intensas paixões,
mas foi fiel aos pequenos amores.
E nessa vida simples,
com as contas do mês e o sofrimento diário,
ele fez muita gente feliz.
A felicidade é um estado de espírito.
E só.
Ontem...
Dançando ao som da mesma música
E, por um jogo de sinais,
a regra era uma só:
viver o momento.
E é assim que deve ser.
Nada dura para sempre.
Nada.
What you want
Baby, I got
What you need
Do you know I got it?
All I'm askin'
Is for a little respect when you come home
Hey baby
just a little bit
when you get home
Mister!
R-E-S-P-E-C-T
Find out what it means to me
R-E-S-P-E-C-T
Take care, TCB
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Eu por mim mesmo III
eu no meio?
socorro!
...
-tá vendo aquele monte de gente amontoada ali?
-sim!
-então, tô bem longe dali.
___
Próximo Episódio: Eu sou mestiço
O Ano do Camaleão
Em fevereiro o carnaval trouxe mulheres sem compromisso.
Março passou e ele não viu.
Em abril as janelas continuaram fechadas porque a luz do sol poderia revelar uma solidão que o frustraria.
Maio era o mês em que visitaria a mãe. Mas não foi. Mandou um telegrama e tudo ficou bem.
Junho e julho foram indiferentes, velhos caminhos com paisagens ausentes.
Agosto, sem feriados. Em dia de semana uma das mulheres sem compromisso voltou. Ele seria pai.
Em setembro ele queria morrer. Mas outra das mulheres sem compromisso também voltou. Ele seria pai mais uma vez.
Em outubro ele queria matá-las.
Em novembro seus filhos nasceram. Ele não suportava olhá-los.
Em dezembro, ele não conseguia largá-los.
_______by Thi
bom, resolvi expor isso por dois motivos: o título do texto veio primeiro que a história. isso nunca acontece. e o outro motivo... esse texto é diferente dos outros, ele não me emociona. e por incrível que pareça eu achei isso especial. eu escrevi um texto sem estar dentro dele. não sei se isso é possível, mas espero que você me entenda.
domingo, 2 de novembro de 2008
Um texto do passado
O que é... ontem
É um tempo em que as palavras 'sonhos' e 'planos' são sinônimos perfeitos
Ao contrário dela, eu havia mudado bastante. Tornei-me um pouco mais cético, bem mais cínico, muito mais desconfiado e, confesso, tive mais decepções do que imaginava que viria a ter. Aquela pessoa e eu, há tantos anos, tínhamos exatamente os mesmos sonhos. A maioria deles, hoje eu sei, era irrealizável por natureza. Lembro-me, por exemplo, que eu queria aprender a ler pensamentos. Queria voar por minha própria dinâmica, como se tivesse asas. E acreditava, com absoluta convicção, que seria capaz de fazer essas e muitas coisas impossíveis. Porque eu não apenas tinha o tempo a meu favor, mas tinha principalmente aquela saudável falta de medo, típica da juventude, que nos faz acreditar que o mundo em essência é simples e que os adultos vivem engajados em uma monumental campanha para torná-lo cada vez mais complicado.
Trabalhar, por exemplo. O que poderia ser mais fácil do que entrar em uma empresa, fazer novas amizades, ter grandes idéias, ser reconhecido e promovido, viajar pelo mundo inteiro e, ainda por cima, ganhar muito dinheiro? E o melhor de tudo era que, com o talento que eu acreditava ter, todas essas coisas aconteceriam em questão de dois ou três anos, no máximo. Hoje eu sei que não é bem assim, mas hoje é hoje. É por isso que é bom encontrar alguém que nos transporte de volta para ontem, quando as palavras "sonhos" e "planos" eram sinônimos perfeitos. É em momentos assim que a gente pára e faz um balanço da vida, para perceber que não perdemos oportunidades; o que perdemos foi boa parte da confiança que tínhamos em nós mesmos. E aquela pessoa estava ali, bem na minha frente, para comprovar isso.
Então, fechei o álbum de fotografias. A pessoa que eu havia encontrado após tanto tempo era eu mesmo, num retrato quase esquecido. A foto me lembrou que, um dia, eu já fui alguém mais corajoso e bem mais confiante do que sou hoje. Aquela pessoa que fui enxergava o mundo como uma ampla avenida, em que as luzes de todos os faróis estavam sempre verdes. E a pessoa que eu me tornei passou a se concentrar mais nas ruas sem saída. Não deixa de ser irônico pensar que estudamos tanto e aprendemos tanta coisa apenas para, um belo dia, perceber que nossas dificuldades presentes não são o resultado do muito que conseguimos nos tornar: elas são a conseqüência do pouco que deixamos de ser.
Revista Você S/A Edição 78 - Janeiro de 2005
sábado, 1 de novembro de 2008
Saiba: todo mundo foi neném...
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Corpo a Corpo
onde estava o sentimento?
em algum canto do quarto,
protegido,
distante,
perdido.
Eu por mim mesmo II
Acho que é, né?
Ah, então não vou escrever mais não =S
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
ciclo do esquecimento
eu tenho tempo pra te dar um motivo
você tem o mesmo tempo pra inventar uma desculpa
minha mãe tem tempo pra me dar um conselho
meu pai tem tempo pra me falar das notícias
minha irmã tem tempo pra ler a revista
meu irmão tem tempo pra falar ao telefone
ainda não é tão tarde
você tem tempo pra perceber que está sozinho
eu tenho tempo pra sentir que estou te esperando
minha mãe tem tempo de olhar pela janela
meu pai tem tempo pra falar sobre a chuva
minha irmã tem tempo pra provar aquela roupa
meu irmão tem tempo pra deitar na rede
e mesmo que amanheça
e você desapareça
ainda não é muito tarde
a minha mãe continua me dando conselhos
meu pai continua com aquelas notícias
minha irmã continua com aquelas roupas
meu irmão ainda está ao telefone
tudo continua existindo
mesmo sem você por perto
a minha vida parece com aqueles cds riscados
algumas faixas já não tocam mais
mas eu, por vezes, insisto
as canções ficam para trás
junto com você
e qual é o tempo para te esquecer?
o tempo de uma música?
o tempo de um filme? um curta, quem sabe?
o tempo de escrever um texto?
então, deixe-me ouvir uma música,
ou ver um filme, um curta, quem sabe?
e, tentando te esquecer
talvez eu descubra algo melhor para se fazer.
enquanto isso,
minha mãe tem tempo de olhar pela janela,
meu pai tem tempo pra falar sobre a chuva...
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
sobre os posts abaixo:
o que eu tô fazendo aqui?
em um texto fica a impressão de que eu sou o cara mais solteiro do mundo,
no outro, parece que tem alguém me ligando.
a realidade?
não há.
sei lá!
Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui eu não sou de Marte
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
por horas e horas e horas
dentro de um livro
dentro da noite veloz
quando você liga pra dizer que me ama, eu me sinto tímido. feliz, mas tímido. eu espero o telefone tocar mais de uma vez. eu sinto o coração acelerar. então eu atendo.
o resto?
o resto você já sabe.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Nova música velha!
Quis evitar teus olhos, mas não pude reagir
Fico à vontade então...
Acho que é bobagem
A mania de fingir
Negando a intenção
Quando um certo alguém cruzou o teu caminho
E te mudou a direção ...
Chego a ficar sem jeito, mas não deixo de seguir
A tua aparição
Quando um certo alguém desperta o sentimento
É melhor não resistir
E se entregar!
... além do que se vê
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
O diálogo
- ...
O gosto amargo do silêncio sempre me faz lembrar da sua resposta. Ou da inexistência dela.
domingo, 19 de outubro de 2008
. faz de conta que ainda é cedo .
O jantar de domingo de cada um era independente. Eu comia pão com alguma coisa, meu pai também. Alguém esquentava alguma coisa do almoço. A gente almoçava tão tarde que tinha dia que nem dava fome à noite. Meu pai só ia dormir depois que acabasse aquela sessão de filmes ruins que passa depois do Fantástico. Minha mãe dormia de novo na sala. Eu ficava meio na sala, meio no quarto. Cansava do quarto. Ia pra sala e deitava no tapete, com algumas almofadas. E depois a gente ia dormir de verdade. Dormir de verdade é quando você dorme num dia e acorda no outro. Só os mortos e os jovens não sabem o que é isso.
Esse texto que eu acabei de escrever é tão trivial, mas é a minha verdade. Eu vou batizar de "verdade do domingo".
sábado, 18 de outubro de 2008
Eu por mim mesmo I
_ Thiago, você sabe qual exercício é pra entregar?
_ Não sei.
_ É pra terça?
_ Sei lá.
_ Tem que digitar?
_ Será que tem que digitar?
Outra coisa. Eu às vezes começo a contar alguma coisa que aconteceu comigo e paro na metade. Sei lá, me dá uma preguiça de terminar de falar. Às pessoas ficam um pouco irritadas e vêm com aquele "começou, agora termina". Não adianta, eu não termino.
Eu tenho uma fobia. Na verdade não é bem uma fobia, é uma... nossa, tô com uma preguiça de terminar esse post. Bom, acabou por hoje. E olha que eu tinha tanta coisa pra falar de mim [nem tinha]. Bom, a fobia fica pro próximo capítulo então. Mil beijos.
Os palpites de Thiago
Debaixo do meu cobertor
E te arrancar suspiros
Fazer amor
Tô com saudade de você
Na varanda em noite quente
E o arrepio frio
Que dá na gente
Truque do desejo
Guardo na boca
O gosto do beijo...
Amanhã vai chover?
Bom, dentro de casa não chove
(pelo menos não nesta casa).
Esse palpite é seguro.
O amor pode acontecer
De novo prá você
Palpite!...
(Esse palpite já não é tão seguro)
//Vanessa Rangel feat. Thiago ;]]
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
a história do menino.
E foi assim que esqueceram de gravar no coração do menino a data de validade: aquele ano era ano de Copa. Aquele dia, era dia de jogo do Brasil. O pai do menino quase teve um ataque dos rins quando teve que largar a tv para levar a mãe do menino para o hospital. O médico tirou o menino de dentro da mãe e voltou correndo pra salinha da tv, junto com o pai do menino. E deu nisso, o menino estava condenado a amar todo dia.
O menino amava tanto e sem parar que um dia o pai e a mãe levaram o menino pro médico (na verdade, levariam o menino antes, mas justo no dia teve jogo das eliminatórias da Copa, dai o pai não levou o menino). O médico examinou aqui, ali... O menino respirava aqui, ali. O médico não sabia o que o menino tinha. "Virose", disse então. Deitaram o menino na cama. Por meses. Mas o menino não sarava da tal doença.
O menino amava o cãozinho, amava os irmãos e até os primos. O pai colocou o menino pra ser juiz de futebol. Mas não deu certo porque o menino era justo demais. Aquilo deixava o pai irritado demais. A mãe levou o menino para ser coroinha. O menino era um anjo. Então não deu certo, a mãe pensou que o menino estava competindo com Anjo Gabriel só pra deixar a avó irritada. Tirou o menino da igreja. "Não há nada que dê jeito no menino", disse a avó. Na escola, o menino não passava de ano. Motivo: amava demais a professora. Não queria mudar de turma. Solução: falaram pro menino que se ele passasse de ano a professora iria junto. O menino passou de ano, a professora não foi junto. Machucaram o menino desse jeito. Na verdade, machucaram o menino muitas vezes. O que mais machucava o menino era saber que ele amava, mas as pessoas que rodeavam o menino amavam com limitações. Assim sendo, não amavam. Ao mesmo tempo que o menino foi condenado a amar, ele foi condenado a sofrer. O menino foi ficando triste, e seguiu triste até que um dia o menino acordou bem. Estava feliz, estava como todos os outros.
Mas de repente, o menino puxou o cabelo da prima, grudou chiclete na calça do pai e xingou a mãe. Surpresos, levaram o menino no médico. "Virose", disse o médico mais uma vez.
O menino percebeu então, com os dias, que ele também estava amando pela metade. Ele estava curado. O menino descobriu então que o seu coração já não era imperecível. O menino ficou triste, afinal amar era uma coisa boa. Mas o menino percebeu também que ele tinha deixado de sofrer tanto.
O menino cresceu e descobriu que para deixar de sofrer, as pessoas abrem mão de amar. Amar de verdade. O prazo de validade brotou no coração do menino no exato momento em que ele se tornou um homem.
O sonho do menino era ser uma árvore com muitas frutas doces. O sonho do homem é ser lenhador. Crescer, às vezes, significa sacrificar. Sacrificar sem necessidade de sacrificar.
Por que? Ora essa, matar é mais fácil do que cultivar.
//Thi
do livro que eu terminei de ler agora pouco
- Me mataram, querida Wene - disse.
Tropeçou no último degrau, mas se levantou imediatamente."Teve até cuidado de sacudir com as mãos a terra que ficou em suas tripas", disse-me tia Wene. Depois entrou em sua casa pela porta dos fundos, e desabou de bruços na cozinha.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
+ do filme que eu vi hoje!
- Eu te acordei?
- Sim. O que aconteceu?
- Eu decidi desistir de olhar para o passado. Deixei tudo para trás. Agora tenho que olhar para meu futuro. Chega de fugir. Eu vou crescer.
- O que causou isso?
- Eu retomei minha razão.
- Eu vou voltar para a cama.
- Eu te amo Alice.
- O que você disse?
- Eu disse 'vamos jantar hoje?'.
- Eu não posso hoje. Que tal amanhã?
- Certo... Alice, eu te amo.
- O que?
- Podemos comer risoto com cogumelos.
- Certo, te vejo.
De um filme que eu vi hoje!
- Fala sério! Você já conseguiu ser amigo das garotas com quem você dormiu?
- Não tenho certeza.
- Deixa rolar.
- Quem sabe, se eu encontrar Charlotte um dia nós podemos nos tornar amigos.
- Não, se você encontrar com ela, você irá pensar em levá-la para cama.
- No geral você está certa. Você é a minha única amiga mulher.
- Porque nunca dormimos juntos.
- Eu não me importo...
manifesto
Then I realised God doesn’t work that way, so I stole
one and prayed for forgiveness
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Resposta a perguntas freqüentes:
O adolescente escreve sobre o que ele quer ser.
O adulto escreve sobre o que ele não foi.
Cuidado, há meio-termo. Eu que o diga.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Meu caminho é meio perdido
Chego pra aula atrasado, durmo tarde, atraso o pagamento da conta,
deixo os pedidos de desculpa pra depois e as explicações pra mais tarde.
Quando vejo, hoje já é amanhã. Os acontecimentos me atropelam
antes que eu possa tomar conhecimento de alguma coisa.
Ou o mundo está girando muito rápido ou eu estou vivendo muito devagar.
Mas sigo vivendo, ao menos.
Eu só quero saber em qual rua minha vida vai encostar na tua.
domingo, 12 de outubro de 2008
Estamira I
"O lixo é resto e descuido"
"Adoro isso aqui. A coisa que mais adoro é trabalhar"
"Eu não tenho raiva de homem nenhum. Eu tenho dó"
"Vocês não aprendem na escola. Vocês copiam"
"Copiar hipocrisias e mentiras"
"Escravos disfarçados de libertos"
"A minha depressão é imensa"
Um filme que você nunca vai ver na Globo. Ou seja, compensa muito assistir.
Estamira II
Em uma cidade, um estado e um país mergulhados num sufocante lixo ético, o "lixão" de Gramacho, nem tão longe da decantada "Cidade Maravilhosa", se transforma numa metáfora deprimente do estado a que chegamos. Com humor que nos atenua as dores intoleráveis, o "Barão de Itararé" assim chamava o "Estado Novo" getulista: o estado a que chegamos. Como chamar o atual estado de coisas a que chegamos?
Não nos iludimos achando que os inúmeros traumas e vicissitudes pelas quais passou a personagem real que dá título ao documentário de Marcos Prado teriam sido "a causa" de sua doença mental. Sua mãe também necessitou de tratamentos psiquiátricos. Uma tendência desfavorável já a acompanhava geneticamente. Mas sua história de vida (que o filme vai desvendando aos poucos), sua especificidade e sua subjetividade - única e irreproduzível - estão inscritas em seus delírios, alucinações e modo de estar no mundo. Nada é gratuito, tudo é revelado, desvelado ou re-escrito na forma de Dona Estamira se apresentar. Seu discurso pode chegar a formular lições de sabedoria, mas, antes de tudo, expõe sua percepção peculiar de si mesma e do mundo em que nos encontramos: delirante e sábia, confusa e cristalina, atordoante e provocadora de reflexão.
Luiz Fernando Gallego
Estamira III
ABSTRATO
Eu Estamira sou a visão de cada um.
Ninguém pode viver sem mim. Ninguém pode viver sem Estamira. E eu sinto orgulho e tristeza por isso.
A criação toda é abstrata. O espaço inteiro é abstrato. A água é abstrato. O fogo é abstrato. Tudo é abstrato. Estamira também é abstrato.
TRABALHO
Foi combinado alimentai-vos o corpo com o suor do próprio rosto, não foi com sacrifício. Sacrifício é uma coisa, agora, trabalhar é outra coisa. Absoluto. Absoluto. Eu, Estamira, que vos digo ao mundo inteiro, a todos, trabalhar, não sacrificar.
DEUS
Que Deus é esse? Que Jesus é esse, que só fala em guerra e não sei o quê?! Não é ele que é o próprio trocadilho? Só pra otário, pra esperto ao contrário, bobado, bestalhado. Quem já teve medo de dizer a verdade, largou de morrer? Largou? Quem andou com Deus dia e noite, noite e dia na boca ainda mais com os deboches, largou de morrer? Quem fez o que ele mandou, o que o da quadrilha dele manda, largou de morrer? Largou de passar fome? Largou de miséria? Ah, não dá!
TERRA
A Terra disse, ela falava, agora que ela já tá morta, ela disse que então ela não seria testemunha de nada. Olha o quê que aconteceu com ela. Eu fiquei de mal com ela uma porção de tempo, e falei pra ela que até que ela provasse o contrário. Ela me provou o contrário, a Terra. Ela me provou o contrário porque ela é indefesa. A Terra é indefesa.
A minha carne, o sangue, são indefesos, como a Terra; mas eu, a minha áurea não é indefesa não. Se queimar o espaço todinho, e eu tô no meio, pode queimar, eu tô no meio, invisível. Se queimar meu sentimento, minha carne, meu sangue, se for pra o bem, se for pra verdade, pra o bem, pela lucidez de todos os seres, pra mim pode ser agora, nesse segundo, e eu agradeço ainda.
fonte: site oficial
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Good Morning Life
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Mais feliz!
De fugir e seguir como um rio
O nosso amor não vai olhar para trás
Desencantar, nem ser tema de livro
A vida inteira eu quis um verso simples
P'ra transformar o que eu digo
Rimas fáceis, calafrios
Fure o dedo, faz um pacto comigo
Num segundo teu no meu
Por um segundo mais feliz
/ Dé/ Bebel Gilberto/ Cazuza
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
A melhor frase do dia:
"amar é reconhecer-se incompleto"
Guimarães Rosa
Li isso numa revista, Discutindo Literatura. Ótima revista.
O dia hoje foi ótimo. Misto de Literatura com Eng. Química.
E, mesmo incompleto, uma vez que amo, eu me senti bem.
Que mania é essa que eu tenho de misturar as coisas?
Mania que se reflete em tudo o que eu faço.
Não é necessariamente ruim. Não é conceitualmente bom.
O mundo hoje se mostra dessa maneira:
você tem várias opções, mas só pode escolher uma.
Um mundo com milhares de portas. Milhares de portas trancadas.
Você me entende?
E o pior é que este é um mundo que, mesmo sendo imperfeito,
não te dá o direito de errar.
Brigar pra quê?
Se é sem querer
Quem é que vai nos proteger?
Será que vamos ter
Que responder
Pelos erros a mais
Eu e você?
sábado, 4 de outubro de 2008
Da fila do mercado
“ a moça mal vestida me mostrou três coisas:
- O mundo é transparente, mas eu sou cego
- Se o dia de viver é hoje, o amanhã pode esperar
- Em tempos de amor escasso, proteja-se quem puder ”
A inspiração de hoje veio justamente da fila do mercado. Às 10 horas da noite. Sábado. Sai com um amigo, jantei, fiz trabalho (não necessariamente nessa ordem) e lembrei que caso não fosse ao mercado não teria nada em casa para o domingo. Fiz uma compra pequena, porque domingo eu acordo depois do almoço justamente para não precisar prepará-lo.
Na minha frente na fila do caixa havia uma moça vestida loucamente. Assim: mulambenta. Não sei nem soletrar São Paulo Fashion Week já que sou um zero à esquerda quando o assunto é moda. Mas a moça era uma mistura de hippie com cigano com galo de briga com alguém que acabou de acordar.
Quando ela colocou a suas compras na esteira do caixa eu percebi que havia muitos legumes, frango e um pacote de camisinhas. Havia frango e um pacote de camisinhas. Havia um pacote de camisinhas! E ainda por cima estava escrito “Jontex, embalagem econômica”. Eu falei pra mim mesmo “Thiago, faz cara de que não viu a camisinha”. Mas parece que quando você faz cara de que não viu a camisinha você fica com cara de que viu a camisinha.
Enquanto eu flertava a camisinha, a moça mal vestida tirou da bolsa a sua carteira (também mal vestida) e deixou cair duas moedas. Uma ela recolheu. A outra eu peguei e devolvi a ela, que logo disse:
- Obrigada.
E o que esta palavra de oito letras tem a ver com o resto da história? Esta palavra foi pronunciada de uma forma calma e doce que até parecia dublada. Só que mais do que isso, essa palavra me desconsertou. Imagine você que a moça mal vestida me convenceu com uma só palavra que ela era boa, educada e instruída. Coisa que muita gente, com discursos de extensões políticas não consegue fazer.
O pior (ou melhor), querido leitor, é que mostrando ser educada e livre, a moça mal vestida fez com que eu parasse de olhar para ela e começasse a olhar para mim. “Thiago, você que se diz aberto para novas idéias, que coloca o moralismo na lixeira e o orgulho no ralo, que diz sempre pensar duas vezes nos assuntos, compreensível e receptivo à diversidade de cultura e pensamento... e veja só, justo você com esse pensamento bobo e atrasado sobre sexo!”
Pois é, justo eu. Aquilo pra mim era uma cena de filme: eu com cara de camisinha envergonhada, a moça mal vestida, o frango, os legumes, a própria camisinha e uma trilha sonora dos anos 70. Isso! Tocava uma música muito boa e de repente eu voltava pouco a pouco a ser eu mesmo. Sim, eu sou aquele velho condenado com as novas idéias de liberdade.
E pensei também em como o mundo seria melhor se todos fossem iguais à moça mal vestida. Porque a moça mal vestida compra camisinha e não se importa se uma cambada de tontos fica olhando. A moça mal vestida tem sempre os pés no chão, mas sabe que pode voar. A moça mal vestida é coisa rara e preciosa, diferente da leva de vadias que escondem a falta de pensamento com roupas da moda e jóias caríssimas.
Por que eu escrevi esse texto? Primeiro, é um pedido de desculpas à moça mal vestida pelo meu modo cego de ver as coisas. Segundo, para dizer que a moça mal vestida é uma mulher linda e inteligente, um exemplo a ser seguido, Terceiro, pra dizer que pra mudar basta estar vivo. Eu estou falando de mudança de opinião, de postura, de pensamento e atitude. Ao viver essa situação, penso que eu mudei. Você pode fazer o mesmo às vezes?
E pra finalizar, eu escrevo esse texto pedindo para que você se proteja. Em todos os sentidos.
Proteja-se.
Liberte-se.
Para verdadeiras descobertas, não peça novas paisagens, peça novos olhos.
Então, pra nós, um hoje mais feliz.
Mil beijos.
E com alguns quilos de moralismo a menos, sigo vivendo.