domingo, 29 de janeiro de 2012

Sobre enciclopédias de papel (parte 1)

Quando eu estava na quinta série, a minha mãe comprou uma série daquelas enciclopédias que vem com no mínimo 951583156416254 volumes. A nossa, por mera exceção, tinha 11 - 10 volumes indexados de A a Z, indicando a inicial do tema que o leitor desejava pesquisar e um volume que era uma espécie de guia do usuário, para que pessoas sem-noção não começassem sequencialmente a sua busca pela palavra "Zoológico" pelo volume 1, o da letra A. E uma enciclopédia sexual veio de brinde. E é sobre ela que vamos falar.

Mentira. Só quis prender a atenção do leitor.

A questão é que desde a quinta série, ou seja... (processando, processando, processando, cálculos concluídos porém com uma margem de erro grande!) em quase 13 anos, eu usei aquele monte de livros (processando, processando, processando, cálculos concluídos porém com uma margem de erro grande!) duas vezes, efetivamente. Mas tive algumas tentativas frustradas, por exemplo: precisava fazer um trabalho sobre um dos cinco sentidos (gente, são cinco mesmo? esqueci!). Estava na sétima série.  O meu tema era "Paladar". Fui na enciclopédia e não achei. Claro que não, porque eu deveria ter pesquisado por "Gustição"! Gustição, como assim? Só fui saber o que era "gustição" porque a enciclopédia era culta - e eu não. 

Enfim, mesmo com essa confusão, ainda tive tempo de fazer o trabalho usando a enciclopédia prolixa. E era em grupo ainda. Odiava trabalho em grupo naquela época: gente esquisita atrai gente estranha. Se o circo passasse pela cidade, capturava a minha equipe. E sabe como é trabalho em grupo de ensino fundamental: hoje um digita no google, o outro clica um terceiro imprime e um quarto coloca o nome dos 20 integrantes na capa. Mas na época não era assim. No caso, eu pesquisei, um maluco trouxe o papel almaço e uma doida transcreveu o artigo da enciclopédia. Só que tinha um pequeno problema:

Ela era meio semianalfabeta. Sim, meio semianalfabeta. Acho que até hoje em dia a coisa está assim. Só que isso era normal. Não estou sendo muito preconceituoso, só estou descrevendo o mundo como o vejo sem levar em consideração outras pessoas. Isso não é ser preconceituoso, é?

Continuando: Quando eu vi o nosso trabalho, eu quis morrer. Calma gente (mais uma vez). Eu já quis morrer em outras situações. E nem tenho tendências suicidas, mas quem vive quer morrer em pelo menos 4659436212 situações.

A questão era que o trabalho estava cheio de erros de grafia. Eu lembro que eu tive que corrigir às pressas o que eu sabia que estava errado - colocava as palavras em parênteses e escrevia por cima, porque se eu usasse corretivo não seria um trabalho em papel e sim uma placa de gesso. Fiz o que pude. Eu lembro que eram tantos erros, que eu desisti antes do fim. Calma gente (novamente, de novo). É normal desistir antes do fim. E se você acha que não, me diz então: Quantas medalhas olímpicas você tem?

Mas este assunto é muito sério. Naquela época, coisa de uma década atrás, o material de apoio estava ultrapassado e os alunos não conseguiam visualizar o quanto erros desta natureza definem a sua condição de cidadão. E que isso é um indício forte de que uma boa oportunidade (som dos tambores! expectativa!) não vai surgir. Pareço um pouco professor de filosofia frustrado e desqualificado ao falar isso, mas não tenho classe pra formalizar o que penso sobre o assunto, então falo dessa maneira sobrenatural que vocês estão vendo.

Uma das coisas que mais me orgulho - me desculpem a falta de modéstia, ainda mais sobre algo tão sem brilho - é da minha escrita, mesmo que haja erros em alguns momentos. Mas acho que são poucos. É tão bonito escrever bem. "Escrever direitinho", como eu diria se fosse professor primário.

Numa situação, alguns anos depois, eu saí com alguns amigos e encontrei essa pessoa que escreveu o trabalho todo errado. E ela trabalhava como garçonete em uma padaria. A gente conversou brevemente e, sabe, eu não me senti muito bem. Pode parecer arrogância, prepotência ou superego. E corre o risco de ser tudo isso mesmo. Eu estava na faculdade, muito bem, muito feliz, de férias e ela estava ali, numa situação um tanto estagnada. Faltou maturidade para mim, poderia ter feito algumas perguntas, ser mais sociável, até porque convivo com muitas pessoas simples. Mas "o que passou, passou" - como diz aquela música de axé.

Só que eu não queria estar no lugar dela. E não queria estar no meu também. Estranho como o estudo te liberta de algumas coisas ruins e te prende a outras.

Às vezes confundo problemas com soluções.

A gente costuma falar que o problema do Brasil é a educação. Mas o problema do Brasil é a desigualdade. Entre pessoas que estiveram tão próximas.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Sacolas retornáveis e outros amores

Hoje acabei comprando uma sacola retornável. Em muitas cidades os supermercados já não distribuirão mais sacolinhas plásticas. Achei ruim, mas já era hora, afinal, é uma coisa que é feita pra ser jogada fora.
E hoje em dia tudo é assim. Nada é feito para durar. E esta moda de reciclar ou reutilizar está entrando aos poucos na minha vida. Os meus sentimentos bons, meus amores e meu trabalho devem ser como sacolas retornáveis. Quero abrir os olhos para isso. Quero que as pessoas sintam isso também.

Pra quem coleciona sacolas descartáveis, sinto muito. E pra quem coleciona amores, também.