quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Erro conceitual

Pensei em escrever ficção premeditada, mas tenho o pressentimento de que falharia. Então escrevo assim mesmo, com meu pulsar involuntário.

A vida é algo que se toca com os lábios. Em harmonia. Então se beija.
Mas me foge às vezes esta posse e passo a persegui-la desesperadamente. É a busca por sentido.

Li em algum lugar que se você entra em uma sala e não sabe exatamente o porquê, é sinal de que está vivendo como um cachorro.
Mas o cachorro sabe o que quer: nada. Eu, por pertencer a uma divisão mais nobre do reino animal, devo ter mais controle, usufruir do saber e progredir.
Vejo centenas de homens latindo. Outros trabalham exaustivamente a troco de alguma invenção que está por vir.
Homens que escrevem, que amam, que possuem.

Acordei um dia e a vida parecia estar lá longe. E quando eu chegava ao ponto de encontro, como numa espécie de mágica, ela se deslocava para outro lugar. Então um dia me veio uma luz:
- A vida não me entende porque não falo inglês.

Então passei a estudar e a praticar com o espelho todos os dias para ficar mais forte diante da busca.
Mas não veio a mim. Então percebi que a vida não gostava das minhas velhas opiniões. Passei a ler mais, a assistir mais e a escrever mais. Só que exagerei. Se não encontrava a vida, passei então a não entendê-la.
Precisava de faculdade então. Passar por esta metamorfose e sair fortificado, com a mente e o coração abertos.
Então a vida passou a ficar arrogante. Não tinha mais tempo, queria hora marcada.
Para formalizar compromissos, decidi ter um emprego.
De nada adiantou, a vida ficou esquecida.

Um dia, com aquela loucura, criança chorando, telefone tocando, conta vencendo e eu morrendo, tive um ataque.
A vida estava dentro de mim. E quem se lembrava?
E em que momento ela voltou a me habitar?
Acho que sempre.
A vida me persegue por todos os momentos e eu insito em adiá-los. Depois dizem que é ela que anda corrida.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Emprestando

Do Pequeno Príncipe

Assim eu comecei a compreender, pouco a pouco, meu pequeno principezinho, a tua vidinha melancólica. Muito tempo não tiveste outra distração que a doçura do pôr-do- sol. Aprendi esse novo detalhe quando me disseste, na manhã do quarto dia:
- Gosto muito de pôr-do-sol. Vamos ver um...
- Mas é preciso esperar.
- Esperar o quê?
- Esperar que o sol se ponha.
Tu fizeste um ar de surpresa, e, logo depois, riste de ti mesmo. Disseste-me:
Eu imagino sempre estar em casa!

De fato. Quando é meio-dia nos Estados Unidos, o sol, todo mundo sabe, está se deitando na França. Bastaria ir à França num minuto para assistir ao pôr-do-sol. Infelizmente, a França é longe demais. Mas no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejavas.

- Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e quatro vezes!
E um pouco mais tarde acrescentaste:
Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol ...
- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e quatro?
Mas o principezinho não respondeu.

P.S.: Não é que estou triste, apenas encantado.

domingo, 28 de novembro de 2010

Aniversário

Dia 25 foi o meu aniversário e passou super batido, que nem velho distraído no bingo.
Mas aniversário não tem a obrigação de ser quase um feriado, tem?
Sabe o que está me faltando estes dias?
Uma paixão.
Mas não por pessoas.
Por atividades.
Sabe, ter algo bem legal pra se distrair?

...

Tô precisando de alguém pra me dizer:
Thiago, quero te agarrar de modo selvagem.
Mas isso não tem a ver com paixão, como foi descrito acima.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Crônico

Odeio querer as coisas pela metade.
Porque quando as perco fica essa sensação de remorso, consolação, descaso e dor.
Então enquanto sofro posso perfeitamente viver numa boa: escrevo, leio, converso.
Com o coração partido, mas não o suficiente para que o meu mundo se acabe em lágrimas.
Queria eu estar inconformado e não conseguir fazer nada, só sofrer. E não ficar nesse emaranhado de sentimentos que não prestam dia e noite, noite e dia. Queria tirar essa parte de mim. Queria algo concentrado que substituísse minhas doses diárias de lamento.
Não sei se estou triste.
E é essa incerteza que me maltrata.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pra acabar

Gente, hoje eu estava no serviço e com o canto do olho eu vi uma mulher com os peitos super caídos.
Era demais.
Tanto que tive que olhar de novo.
Então eu vi.
Não eram os peitos, era a barriga.
E não era uma mulher, era um homem.
Pensa!
Perdi a noção.
Total!!!

domingo, 10 de outubro de 2010

Para ele outra vez!

Para o meu irmão
e, de certa forma, para mim

Tenho lembranças muito fortes de nós dois. E algumas me machucam demais. Tenho você em meu coração por todos os momentos. Sinto que infelizmente eu te perdi e não sei mais o quanto a minha presença é importante para você... Tão bem sem mim, e era assim que deveria ser, mas isso de certa forma me enfraquece. Por muito tempo eu não fui um bom exemplo para você e espero que você entenda um dia a nossa distância.
Eu me lembro de um sonho em que nós dois estávamos fugindo e, num certo momento da fuga, você parou e disse que não iria mais comigo. E eu deixei você ficar e continuei correndo. Enquanto eu corria, sentia que eu não deveria ter te deixado, mas mesmo assim, persistia no erro. Com medo de que acontecesse algo com você, eu acabei acordando daquilo tudo.
Eu acordei.
Para nós.
Passei a fazer alguns esforços por você e pude perceber que você me fez crescer muito. Como naquela vez em que fomos só nós dois viajar de ônibus, aquela viagem demorada que separava a rotina das férias, e me lembro que, quando você dormiu, eu pensei "Graças a Deus, o tempo vai passar mais rápido para ele". Só que eu quase não dormi naquela viagem, porque estava muito preocupado com você, comigo, com o horário, porque chegaríamos no nosso destino de madrugada... Enfim, existia algo maior do que o meu conforto para ser cuidado.
Mas aquelas férias foram muito legais!
Eu devia ter 14 anos e você 7. Exatamente metade. Você é a metade de mim que eu mais gosto.
Feliz aniversário de 15 anos!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Fora de Moda

Nada me interessa mais. Esta caixa de e-mails lotada, todos sobre nada. Estes livros que eu tanto queria ler, as novas goteiras. Eu só queria ser parte consolidada de alguma coisa neste momento. De ter definido um ponto no tempo e no espaço, um ponto de existência, uma prova. Não que eu seja enigmático,longe disso. É que desejo saber o sentido de tudo o que faço e talvez isso seja até mesmo obrigação minha. Então me sinto falho.
Uma sensação de derrota que tenho é esta que me parece mais pesada agora: eu estou sempre lutando para me perdoar por erros que eu nem sei quais são. Quero me libertar de uma culpa não identificada. Enlouqueço conscientemente e sinto raiva e quero estrangular alguém. Não quero saber de ninguém e quando fico sozinho não suporto a minha presença.
Não quero regressar à insegurança do passado, então me agarro a estas expectativas mortas que eu criei. Eu roubei a certeza que tinha de que não era ninguém e agora criei uma responsabilidade enorme para mim mesmo: tenho que existir. E mais do que isso: tenho que fazer alguma diferença.
O que me surpreende é que eu tenho talento. Eu tenho alma. Tenho uma visão imensa de tudo, mas ainda me falta algo maior. Falta, na verdade, um inverso. Fantasiam que Deus dá asas para quem não sabe voar. Penso que voar eu sei, me faltam as asas então.
Preciso desaprender? Porque sempre tento aprender a ser melhor, aprender a superar, aprender e aprender e aprender. Enquanto me preocupo tanto com a minha formação, não seria necessário então descontruir?
Talvez eu devesse me desapegar a esta ideia que tenho de mim. Tenho que me deixar ser. Mas olho para as pessoas que se permitiram. E não as vejo.

sábado, 25 de setembro de 2010

Fora de Forma

Em todos os sentidos.

Acordei um dia e me vi em dois empregos. Em menos de um mês a minha vida mudou muito. Não sei se eu estava pronto para o que me aguardava. Até porque eu desconhecia o que me aconteceria no dia seguinte. Pronto ou não, o que foi necessário fazer, eu fiz. Com alguns improvisos, é claro. Sem experiência nenhuma, me agarro à minha fraca intuição sobre aquilo que penso ser o correto.

Acho que de tudo o que tenho vivido, posso dizer que estou mais responsável. Acho até que já posso ter um cachorro. Não estou mais me sentindo ferido tão fácil quanto antes. Ao mesmo tempo em que estou preservando as pessoas que eu gosto dos meus comentários desagradáveis. Talvez por isso eu tenha ficado em silêncio estes últimos tempos.

Acredito no meu potencial e sei o quanto algumas dificuldades são importantes para mim. E que Deus me perdoe, mas estou aprendendo algo muito importante: ignorar pessoas. E por incrível que pareça, boa parte dessa missão diz respeito somente a entender o que se passa com a vida do outro, e que o que se passa com a vida do outro é problema (que Deus me perdoe novamente) do outro. Se eventualmente sobrar algo para você, você deve dizer:

Não, obrigado - isso é problema seu. Compacte e enfie onde quiser. Se não quiser compactar, não tem problema. Aliás, sugiro que nem compacte. Se precisar de ajuda, não me chame.

Corro o risco de ser interpretado mal ao publicar este texto, mas acho que a gente perde muito às vezes por ficar calado. Mas não pense que ando de mal com a vida não. O meu amor continua imenso. Digamos que eu apenas acordei.

Talvez o porquê deste texto seja apenas o meu novo corte de cabelo que me deixou com a autoestima lá em cima. Sou bonito, inteligente e já fui magro. Mas é mais fácil perder a barriga do que ganhar um cérebro.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Devoluções

quando sigo para o trabalho sinto o meu coração despertar e percebo que estou vivo.
e esperando.
o que eu espero,
demora.
não tem nome,
não tem hora.
já teria outro homem abrigado esta agonia?
os corpos que desfilam nas ruas
não me prendem a atenção.
quero minha alma de volta,
o bom senso,
a razão.

sábado, 28 de agosto de 2010

From the soul vacation

Mãe, hoje quando você foi embora você disse que talvez volta em outubro, mas só volta se o meu irmão quiser viajar junto. Daí eu disse: vem sim, se ele não quiser vir, vem também.
É. Acho que já estou com saudades.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mudança

Mais uma mudança, só que desta vez é daquelas em que você coloca os móveis em cima do caminhão e vai embora. Essa é a... 12ª casa que eu moro... estou rumo à 13ª. Tantos quartos, tantos esconderijos nada secretos, tantas fachadas... e agora volto pra minha terra natal.
Acho engraçado o fato de que, vira e mexe, eu acabo voltando pra lá.
É legal. Vou poder avaliar como é morar no mesmo lugar em épocas diferentes.
Espero que durante este tempo eu tenha tempo pra ler bastante, escrever, estudar coisas diferentes. Sem me esquecer das responsabilidades do estágio, é claro.
Bom, sobre o estágio:
Vou trabalhar em uma usina de álcool e açúcar durante este semestre. Por Deus, não sei o que vai acontecer e, a não ser de uma forma bem genérica, não sei o que esperam de mim. Depois do estágio eu termino o curso e viro engenheiro químico de vez e (repeat) por Deus, não sei o que vai acontecer e, a não ser de uma forma bem genérica, não sei o que esperam de mim. Daí vem o dilema: mestrado, emprego, férias ou prostituição?
Imagino que poucas pessoas falem tão abertamente quanto eu sobre essa incerteza que é o início de carreira. Talvez porque elas pensem que isto é um sinal de fracasso. Não é. É?
Voltando à mudança: Nossa... Quanto papel, quanto livro, quanta revista. E tudo sobre tudo. Química, Literatura, Comportamento, Negócios, Carreira, Engenharia, Física, Projetos, Biologia... Definitivamente, foi a época mais produtiva da minha vida. Nunca li desesperadamente tanto sobre tanta coisa. Sinto um carinho imenso também quando encontro algum rascunho do primeiro ano da faculdade, daquela insegurança toda, da saudade dos meus pais... vejo um texto rabiscado ou um exercício de álgebra linear que não deu certo e me lembro de como me sentia naquele tempo. E como fui percebendo que a gente tem que adaptar os sonhos à realidade e não se deixar iludir por tão pouco.
Penso nos meus amigos e evito comparar as nossas vidas. Cada um toma o rumo que quiser e não é a minha visão que mede o sucesso ou a ruína dos outros. Tento focar na minha felicidade e decifrar o que eu quero. Penso se quero estabilidade ou desafios constantes. Dinheiro ou tempo. Se vou querer viajar pelo mundo sozinho ou levar meu filho para visitar a vó. Se vou querer ter uma família ou apenas me contentar com as boas companhias que a vida sempre proporciona.
Sinto muito por não ter as respostas, mas sei que delas sou dono e cabe somente ao meu bom senso decifrá-las.
Tenho que interromper este momento "o futuro chegou, cadê o manual?" e terminar de arrumar as malas.
Mil beijos.

domingo, 25 de julho de 2010

Bastidores



Já se passaram 5 anos. Mas só a foto está velha, eu não.
3º ano do Ensino Médio.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Para a monografia da Kari

Amanhã será um grande dia para você. Estou tão feliz, tão emocionado. Você merece tanto. Eu te conheço tão bem que, se você tivesse ideia, sentiria medo. Desejo a você mais do que eu tenho para lhe dar. Desejo a você sorte. Tenho medo que um dia você pense que não me lembrei desta data, por isso escrevo e registro aqui o meu sentimento.
Que não cabe no meu coração.
Você me disse que estava um pouco nervosa - e eu também. Mas estou muito orgulhoso. Quando penso em nós dois naquela escolinha da fazenda, tão simples, tão precária, vejo que a gente venceu, que você venceu. Você é tão forte e nem sabe o quanto. Esse seria o meu aviso pra você. Muito sucesso!

domingo, 18 de julho de 2010

Versos para acalentar M.

Quando Deus te fez
te fez forte
para todo o milagre da vida
para o inesperado da morte

Estremeço ao pensar
no amor desesperado
que lhe fizeram passar
levaram o seu filho
num adeus antecipado
impossível acreditar

Da violência transmitida
nas antenas da TV
pouco se fala da dor
de uma mãe feito você
do amor que nos privam de dar
de um filho que não vai mais ver

Não há justiça que possa trazer
de volta seu filho
a razão de viver
Compartilhamos a dor
permitimos chorar
Oferecemos amor
enquanto a vida durar

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ser honesto com a vida

Pai, eu falhei muitas vezes. Eu permiti que nós nos distanciássemos de uma forma que você não merecia. E também acho que eu não soube dar o valor necessário a tudo aquilo que você me fez. Eu te amo tanto e sei que você sabe. O que me deixa extremamente feliz é que eu sei reconhecer os meus erros e posso contar com a sua aceitação. Você é um grande líder e alguém que entende muito da vida.
Quando eu era mais novo, eu não queria ser igual a você. Eu não te entendia.
Eu me lembro de algo bem marcante, que me fez pensar muito. Quando meu irmão mais novo tinha uns 3 aninhos, ele estava brincando de carrinho com alguns amigos e, como quando a gente brinca de ser adulto, tem que incorporar um personagem. E ele era você. Naquele momento eu percebi a diferença entre mim e ele. E pude notar que de certa forma eu não estava sendo leal.
Acho que fui amadurecendo e ficando mais atento e hoje, com toda a certeza do mundo, eu quero muito ser igual a você. Tudo aquilo que eu faço eu penso se você aprovaria ou não. E isso molda pra mim um conceito do que é certo e do que é errado.
Penso muito em você. E sinto muita, mas muita saudade de nós.
Feliz aniversário.

Dos meus filhos eu sinto saudade
Eu tenho medo que eles achem que
Eu não sinto a falta deles
Como eu acho que eles sentem de mim
Pego o meu carro pelo asfalto
Uso um sapato da mesma maneira
Por influência do meu pai

Nando Reis

domingo, 11 de julho de 2010

Quando a gente fecha as portas

Estou diante de um sentimento inédito. Sei da minha culpa, mas posso provar a minha inocência. Meu Deus, eu sou um adulto agora. Supostamente eu deveria saber o que fazer. Eu tenho tanto medo de não ser perdoado pelos meu erros. Mas se eu errei foi porque eu busquei acertar por mim mesmo, porque eu não tinha pistas ou truques. O meu coração está apertado, dividido, despedaçado, triste, esperançoso. E tudo isso por causa de um estágio. Nessa busca eu percebi que me amam de uma forma muito honesta e que foi empregado tanto esforço, por parte de tantas pessoas, que eu me sinto extremamente comovido só de pensar numa fração de tudo o que eu recebi. E é ruim estar comovido, porque meu coração se atrapalha um pouco e acaba convertendo tudo em tristeza e saudade. Como alguém que se diz tão grato, também tem coragem de dizer "não"? Eu sou uma das pessoas mais complexas do planeta. Tenho vivido um misto de inesperado com azar. E eu estou aprendendo que a gente não pode pedir muito. Tem que ser feliz e só.
Obrigado Deus, por toda bondade disponível e perdão por eu não saber usá-la.

domingo, 4 de julho de 2010

Argumentos que faltam

Você está dormindo agora?
Se eu puder ser seu,
eu vou ser.
E talvez quando você ler este texto,
talvez ainda tenha dúvida se ele é mesmo sobre nós.
Então este foi o jeito que eu encontrei
pra te dar a minha certeza.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Antecipo-me

Sabe quando a gente vai aprendendo um pouquinho da vida?
Tenho sentido isso intensamente nos últimos meses.
As pessoas da minha rua, da minha sala, os alunos do cursinho, os meninos da república, os visitantes da minha vida.
Eu vou sentir saudade. Sabe de quem?
De mim.
Das coisas que eu vivi e que não podem se repetir.
Às vezes eu me pergunto se acertei nas minhas escolhas. E no fundo, eu vejo que isso pouco importa.
O importante é ter sorte.
Eu fui muito bem escolhido.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Viver é um máximo

Hoje foi um dia bem especial.
Logo de manhã, eu saí de casa e andando pela rua, um casal com uma menininha estava vindo na minha direção. Quando eu passei por eles, a garotinha puxou a minha camiseta e gritou "Oiê!". Na hora eu não entendi muito bem, mas por instinto também falei "Oi!". E conforme continuei andando, pensei em como a vida é bacana quando a gente está distraído. Dois minutinhos de atraso e eu teria perdido tudo isso.
No fim da tarde fui imprimir alguns trabalhos e encontrei com os dois filhinhos da minha prima. A gente quase não se vê e, como criança cresce muito rápido, eu quase não reconheci. Conversei um pouco com o pai deles, perguntei para as crianças se elas lembravam de mim e elas disseram que não. Sabia que não se lembravam, mas o que mais perguntar? Criança é tão fácil e tão difícil ao mesmo tempo.
Viver é um máximo. Só que a gente tem que se distrair.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Esquecimento

Quanto mais desejo, mais eu perco a sua atenção.
Eu sinto muito,
mas aquilo que deduzi ser amor
ou transformou-se
ou nunca foi.

sábado, 5 de junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Vontade

Eu sou um eterno medalha-de-bronze.
E não importa.
Eu acho que sou alguém que luta bastante, mas que tem uma sorte danada também.
Às vezes me amo loucamente, me beijo, me abraço.
Quando as coisas não vão bem, eu tento acalmar meu coração, busco a minha paz, me consolo.
Evito me criticar, gosto de aceitar os meus erros, rio dos meus pensamentos, penso na história que vou construindo.
Eu gosto de escrever, gosto de merecer, gosto de pensar nas coisas que preciso mudar - fora e dentro de mim.
Eu busco um grande amor, mas penso que eu posso não achar. Se eu não encontrar, eu tenho muitos outros planos.
Eu quero ter um filho. Eu quero educar, eu quero crescer junto.
Eu quero continuar ajudando as pessoas. E quero encontrar pessoas que me ajudem também.
Eu quero ser respeitado, eu quero ser querido, eu quero ser entendido.
Eu quero escrever um livro, ter um emprego bacana, viajar por aí.
Quero ver minha família sempre, quero presenteá-la.
Eu quero saber lidar melhor com a dor.
Eu quero reformar a casa da minha vó.

sábado, 29 de maio de 2010

Quando a gente pensa não estar pronto

Acho que eu sou desses que precisa de um milhão de certezas. Às vezes não gosto da vida como ela realmente é. Mas isso é fraqueza minha. Tenho lutado pra ser mais do que eu sou, confiar em mim de uma forma como nunca aconteceu antes. Tudo isso pra ver se a vida toma um rumo. E quando me acho um lixo, é porque penso que sou visto assim pelos outros. E isso é tão imaturo da minha parte. Acho que a gente só começa a se amar no momento em que ignora tudo aquilo que os outros pensam da gente. Isso é extremamente clichê e old fashion, mas é uma verdade que vai durar pra sempre.
Esta semana eu tive uma grande oportunidade de ser humilde. Fui posto à prova mesmo. E o pior é que sempre achei que eu fosse extremamente humilde. Mas isso era hipocrisia da minha parte. Eu tive uma chance e achei que ela fosse pouco pra mim. Agora não posso mais descartá-la. O que parecia pouco, na verdade, é tudo pra mim.
Eu espero que a vida possa me perdoar por eu não dar tanto valor a pessoas e ao esforço que elas fazem para me ver feliz.
Então que aconteça aquilo que está escrito, porque eu estou pronto e com a humildade necessária para recomeçar.

sábado, 22 de maio de 2010

Falha

Porque hoje eu fui tomado por um desespero.
Se eu escrevesse trezentos textos, todos seriam sobre você.
Eu gosto de você e não me falta inspiração para escrever.
Só que eu sinto que não me faz bem,
te querer em palavras, assim,
tão espaçadas.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Todo o amor que a gente deixa de dar

Já faz um tempo, eu vi uma senhora abraçada com a irmã ou com uma amiga, as duas quase da mesma idade e demorou um tempo pra eu perceber que quase não vejo isto na minha vida. A sensação que tenho às vezes é que velho não tem muito carinho por velho. Talvez seja a maturidade e a aquele sentimento de se conformar com as perdas sucessivas que vêm com o tempo. E de ser humilde diante de tudo isso. Mas a gente precisa ser assim? Onde foi parar todo o amor que a gente guardou? Por que por mais que o coração esteja aberto pra tudo, a gente sempre economiza um pouquinho pra uma hora especial. E o tempo passa e a gente se abraça cada vez menos. Eu vejo o exemplo de alguns casais de velhinhos que eu conheço, que quase não conversam, só resmungam um com o outro, mas que se amam loucamente. E tem até aquela história de que se um morre, pode comprar dois caixões, porque depois de pouco tempo o outro vai bater as botas também. Acho que uma parte desse louco amor vem daí: o velho quer que a velha viva pra sempre porque a morte dela implica diretamente na longevidade dele. E por menor que seja a aposentadoria, viver valhe a pena. Só que, claro, é muito mais do que isso. É o parceiro de uma vida. É a parte principal da sua história. É quem sempre esteve lá. E isso me faz me lembrar daquele texto banalizado intitulado "filtro solar" que diz algo mais ou menos assim: talvez você case, talvez não; talvez tenha filhos, talvez não. Eu particularmente espero que você tenha tudo. Mas caso você não tenha, eu espero que o seu amor seja transmito a quem estiver mais próximo. Se você não tiver um marido, você tem um pai, um irmão, um amigo, um vizinho, um animal de estimação. Eu desejo que você tenha amor para dar. E como diz aquela canção super brega que eu amo: perigo é ter você perto dos olhos mas longe do coração.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Vaidade

Será que alguém nota quando eu me aproximo,
não pelo barulho dos passos ou dos objetos que derrubo,
mas por me achar interessante?
Será que eu desperto algum tipo de desejo
bom
em alguém?
Eu sou capaz de atrair olhares
de uma forma que eu não penso ser capaz?
A vaidade não é querer saber tudo isso.
A vaidade é o silêncio do mundo
que não me permite decifrá-lo.

domingo, 16 de maio de 2010

Anne Frank - para sempre

Como não amar uma garota que soube amadurecer em meio a tanto sofrimento? Tantas limitações, tantas censuras... Tanto amor e força que ela pôde compartilhar com o seu diário e, definitivamente, o livro sempre será um sucesso porque é impossível não se identificar com ela, tê-la como exemplo e ver que os nossos problemas são pequenos demais.
A sensação de ler o diário, para mim, foi desesperadora. Saber que alguém tão especial foi vítima da crueldade do momento histórico em questão me fez reacender como ser humano. Este é o livro que guia a minha vida no momento. É um tempo de ter esperança, de crescer e de ser quem eu sou. Sempre.

Eu me perguntei várias vezes se não teria sido melhor não termos nos escondido, se estivéssemos mortos agora e não tivéssemos de passar por toda essa desgraça, especialmente para que os outros fossem poupados desse fardo. Mas nos encolhemos só de pensar. Ainda amamos a vida, ainda não esquecemos a voz da natureza e continuamos com esperança... de tudo. Que chegue ao fim, mesmo que seja cruel; pelo menos saberemos se vamos ser vencedores ou vencidos - Anne Frank.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sugar

Os meus hormônios enlouquecem
e o máximo que eu posso fazer é a barba.
E cada célula viva do meu corpo
me faz perceber que eu pertenço a este mundo.
Somos imperfeitos.
Feitos um para o outro.
Ouço uma música enquanto
espero a hora chegar
Sugar we're going down
in an earlier round
Eu, com toda a poeira de um mundo
num universo de improbabilidades,
tenho esperança.
E apostas.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Para não precipitar

tudo aquilo
que não cabe no poema
faz-se necessário aos olhos de quem lê
é o que mal posso explicar
um toque sublime
um segredo que eu ainda não criei
um sorriso atravessa os meu lábios
resolve não ficar
todo esse mistério se espalha
com memórias apagadas
de uma história que já foi minha
e todos os anjos repousam
sobre lágrimas vaporizadas
dos amantes que ficaram

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Gota d'água

Quando você se tornou mãe, você tinha 21 anos. Eu tenho 21 anos hoje e posso imaginar o quanto você teve que abrir mão para cuidar dos seus filhos. E mesmo tão nova você tinha todas as respostas que eu precisava. Fico feliz por você não ter desistido de mim. Só você sabe o quanto eu sou insuportável e que a convivência pode ser difícil quando eu decido soltar as rédeas dos meus pensamentos. Você sabe quem eu sou de verdade e já me perdoou milhares de vezes. Eu fico pensando que você teve um filho muito difícil de decifrar, com um temperamento esquisito, um gênio forte, uma personalidade extremista. Tenho medo que você não me reconheça às vezes. Você lutou tanto e merecia tão mais, no entanto, eu sou só o que sou. Mãe, eu tenho aprendido a acreditar mais em mim e acho que eu estou me dedicando mais à vida. Posso dizer humildemente que boa parte dessa mudança que venho fazendo é pra te dar um filho melhor.
Feliz dias das Mães.

terça-feira, 4 de maio de 2010

12, 13, 14...

Tem dias que a gente está meio assim: sei lá.
E nesses dias eu fico me perguntando para onde tudo o que eu vivo vai me levar.
Eu achava que era medo. Mas no fundo é ansiedade pelo futuro.
Talvez porque o tempo presente às vezes é um presente de grego.
Você é grato, coisa e tal por estar vivo, mas no fundo sabe que a rotina está te matando.
E não adianta usar aquela teoria de liberar geral, de jogar tudo pro alto... até porque você nem tem o que jogar. E eu sou dependente dessa monogamia social. Me sinto culpado às vezes por estar ouvindo música ou lendo ou, ainda, escrevendo, quando na verdade deveria estar pensando em construir um futuro - futuro, que eu digo, é aquele em que me vejo pagando as minhas contas. Porque tudo o que eu faço dá futuro, mas posso passar muita fome quando ele chegar. Então tenho que escolher bem. Ainda mais guloso do jeito que sou.
Mas é uma pena. Às vezes a gente quer dançar loucamente mas a balada nem começou ainda. E a gente espera pra ver se alguém abre mão do correto e diz que também quer sair pra curtir aquilo que está do lado de fora. Só que é tão difícil ceder, ser o rebelde, levar pro mal caminho.

Eu me imagino naqueles escritórios, que na verdade são compartimentos de cobaias em que existem várias mesas e várias pessoas em seus computadores - tudo isso em uma única sala - e eu falo baixinho pro cara do lado: Ei, vamos sair? E ele se assusta, pergunta se é brincadeira, fica receoso, pensa com os olhinhos mexendo e diz: Vamos, mas você não pode voltar atrás - posso chamar a Raquel? E chama. Ela reage e aceita. A Raquel chama o Fábio. O Fábio chama o Ricardo. O Ricardo chama a Paula. A gente faz um complô. A gente combina. Todo mundo abaixa e sai engatinhando. Atravessa a porta. Pega o elevador. Com capacidade para 10 pessoas. Nós estamos em 12, 13, 14... Cada vez mais gente. Todo mundo escapando.
E por ai vai. Até que um dia só o chefe vai estar na sala. Dai ele pega o mesmo elevador, com capacidade pra 10 pessoas. Mas de tão gasto das viagens com 12, 13, 14... pessoas, o elevador cai.
E a gente vê mesmo que a vida é do lado de fora.

sábado, 1 de maio de 2010

Eu não tô aqui pra passarem a mão na minha bunda

Odeio esta situação. Ela me deixa faminto. Mas enquanto o meu metabolismo estiver com tudo eu vou mais é aproveitar. Eu queria mesmo era ter um controle remoto para a minha vida. Resolver tudo apertando um botão. Pra desligar às vezes, deixar no mudo, trocar de canal, programar o sleep. Não, eu não quero um controle remoto sobre a minha vida. Eu quero é controlar a vida dos outros. Por que os outros é que são um saco. Eu não. Poxa, eu sou bacana. Eu odeio amar as minhas qualidades-defeito. Você deve ter uma também. E deve amar odiá-las ao mesmo tempo em que escrevo tudo isso. Como uma característica tão boa pode ser às vezes um mal. Será que é a dose?
Vamos a origem. Hoje eu recebi uma crítica. Nem construtiva nem coisa nenhuma. Uma crítica para preencher a conversa de uma pessoa. Só era este o objetivo. E eu, indefeso e ingênuo, retruquei. Sim, porque eu sou uma fera mansa. Mas não pude me controlar e tive pouco tempo para pensar. Sabe quando a pessoa te fala algo estúpido e fica esperando você responder com velhas desculpinhas. Peço perdão, mas eu não sou assim. Eu desço o cacete mesmo. Ainda mais quando eu percebo o tom de maldade que o outro carrega. E é essa a minha qualidade-defeito: eu interpreto tudo muito bem e muito rápido. Ao ouvir uma ironia medíocre, não espere que eu processe tudo e só responda no outro dia. Eu falo na hora, emendo o diálogo. Porque eu posso até permitir que me critiquem por me acharem pouco dedicado, ou que ando muito cansado ou, ainda, desatencioso. Mas eu não admito que me deixem triste. Que coloquem nas minhas costas mais um peso pra eu carregar. Eu não. Eu sei quem eu sou e adoro me conhecer. Já fiz tantas promessas pra mim mesmo e não cumpri que me acho um idiota por trair aquele que mais amo. Eu mereço a minha defesa. Até porque eu moro sozinho, tenho que segurar as pontas por aqui, tenho que ser dono do meu nariz, faço café, vou à feira. Se eu não me cuidar, o que é que eu viro? É uma pena só eu saber das minhas intenções; não é porque o inferno está cheio delas que no céu você não vai encontrá-las, não é mesmo?
Mas voltando à questão: talvez eu tenha criado uma boa oportunidade de ser eu mesmo em uma hora péssima. Vai entender esse relógio do acaso. Mas gente, não dá mais pra tentar conter as dores de todo mundo.
Odeio quando sou sincero. Fiquei pensando nisso o dia todo. E olha que eu tinha tanta coisa importante pra fazer. É ruim fazer o que é certo no momento e, passado o tal momento, o certo muda de lado. Enfim, as pessoas podem achar que eu sou um alvo fácil. Desses que você pode falar o que bem quer que nunca vai ter uma resposta de volta. Só que eu não posso negar quem eu sou. E, meu amor, nesse jogo eu sou uma flecha. Com fogo.

Escrito em 26/04/2010

domingo, 25 de abril de 2010

Diagonais - Capítulo Final

A cozinha estava repleta de velas e ele não pode compreender a solidão da casa. Não deveriam estar todos ali? Estava sozinho mais uma vez e isso resumia a insignificância de ter chegado até ali. Os ombros estavam pesados então teve que sentar. Ele não sabia como esperar por algo que não iria acontecer. As velas iluminavam um pedaço de papel e uma velha caneta. Começou a escrever. Rabiscou algumas palavras, pensou em seus motivos e, quando não havia mais inspiração para suas frases cruas e honestas, foi surpreendido pelo rangido do porta.

Ela estava de volta àquela casa e mal podia acreditar. Esperava que ele tivesse deixado algum sinal de toda a tragédia que estava invadindo a sua vida. Todas aquelas velas estavam deixando-a ainda mais confusa. Na colisão, havia perdido seu noivo. E toda a família dela estava no outro carro, rumo ao casamento. Sentiu pena, porque eles não tiveram a oportunidade de se conhecer. E haviam acabado de ser velados juntos. Não era esse o programa planejado para o primeiro encontro. Sobre a mesa, um pedaço de papel.

Eu apenas sinto muito por deixá-la sozinha. Sinto que havia tanto para ser vivido e que agora tenho que deixar para trás. Não quero que pense que eu estou arrependido. Apenas não erraria de novo, se pudesse. Talvez eu tenha perdido o controle. Eu ainda te amo, mas de uma forma que você não merece. Eu não queria te machucar. Talvez eu tivesse apenas ciúme e insegurança para oferecer. Fico triste também por saber que talvez você sinta saudade. Se pudesse te deixar um conselho, diria: não me perdoe. Eu sabia para onde estava indo. Não estava pronto para ficar ao seu lado. E você me esperava tanto. Eu fiz as minhas escolhas e não inclui os seus sentimentos nelas. Apenas para que você não tomasse o caminho errado comigo. Mais uma vez, eu sinto muito, mas não me arrependo...

Ao terminar de ler o bilhete, ela pensou em entregá-lo para alguém. Mas poderiam interpretá-lo errado. E ela não podia ser infiel aos motivos dele para deixá-la. Ele estava abrindo mão de todo amor apenas por não achar que o merecia. Depositou o bilhete sobre a chama de uma das velas. Agora elas faziam sentido. As palavras se transformaram em cinzas. Antes de ir embora, teve a sensação de ter visto alguém no velho banco de madeira do quintal. Voltou a olhar, mas apenas um vento leve fez com que as folhas se deslocassem lentamente.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Diagonais - Capítulo 4

A cidade estava morta e ele se sentiu aliviado por não ter sido abordado pelas pessoas. Ninguém parecia ter curiosidade pelo seu estado deplorável. Julgou ser bom toda a indiferença, mas depois pensou por alguns segundos em como elas eram mesquinhas por não ajudá-lo. Ele deixava suas células mortas pela rua por onde passava e os outros pouco se importavam. O fato de estar no portão de casa o deixou aliviado. Estariam todos ali? Na igreja? No asfalto como aquele bebê? As luzes estavam todas apagadas.
No quintal, sentou-se num velho banco de madeira podre e apenas esperou a ocupação da mente por algum pensamento solitário, porque ele se sentia assim naquele momento. No vazio daquela noite notou uma presença ao seu lado:

- Por que você se atrasou?
Era a sua mãe.
- Eu me machuquei. Quis dar uma volta ontem à noite e alguns rapazes me bateram. Fiquei desacordado e perdido por um tempo.
- Onde estão todos?
- Dentro da casa.
- Por que está tudo escuro?
- Estamos sem energia há um tempo. O que há com você?
- Eu pensei em uma coisa mais sombria mãe. O velho problema da falta de luz nessa droga de cidade...
- Eu te amo tanto.
- Eu vou entrar.

Enquanto caminhava rumo à porta dos fundos, sentiu um aperto no peito por não amá-la da mesma maneira. Então se lembrou. Ele nunca havia conhecido sua mãe. Ele havia morrido no parto. Desesperadamente olhou para o banco de madeira e o encontrou vazio. Apenas um vento leve fez com que as folhas se deslocassem lentamente. Não podia chorar porque não compreendia. Tinha um grito preso na garganta que o fazia sangrar. Continuou andando. O que estava acontecendo afinal?
Abriu a porta e teve a face iluminada por velas.

domingo, 11 de abril de 2010

Diagonais - Capítulo 3

As dores limitavam a velocidade dos passos. O sol já estava alto e o cansaço também. Adormeceu. Os olhos fechados por tanto tempo fizeram com que ele pensasse que havia morrido. Despertou assustado e quando percebeu a falta de luz julgou mais uma vez que a morte havia chegado. Mas era simplesmente a noite. Não tinha percebido como havia dormido tanto. Na verdade, ainda sentia um cansaço tremendo, mas sabia que devia continuar trilhando o caminho para casa. Não parecia estar tão longe. As luzes da cidade já invadiam o seu campo de visão.
Sabia que não passaria despercebido nas ruas da cidade. Não poderia evitar que o vissem naquele estado. Pensou então em pegar uma carona. Inventaria uma história qualquer justificando os ferimentos pelo corpo e esperava apenas que acreditassem nele, sem muitas perguntas.
Na beira da estrada, fazia sinal para os poucos carros que passavam por ali, mas todos os motoristas pareciam indiferentes ao pedido de ajuda. Percebeu então que ninguém teria coragem de dar carona para um homem aos farrapos, ainda mais à noite. Continuou caminhando e tentava se lembrar do que havia acontecido. Mas o que incomodava mais era o fato de não ter recordações do dia anterior ao acidente. Era como se algumas páginas da memória tivessem sido arrancadas.
No misto de confusão e medo, se arrependeu de tentar se lembrar dos fatos. Naquela noite seria celebrado o seu casamento.
Ele estava atrasado.

sábado, 3 de abril de 2010

Diagonais - Capítulo 2

A sensação de estar pisando no inferno o fez perceber que havia perdido um dos sapatos. O pé descoberto o fez lembrar dos beijos sinceros que havia recebido há pouco tempo. Por todo o corpo. Sentiu medo por estar sozinho, mas não podia voltar. O sol morto o deixava confuso. Que horas eram afinal? Estava fugindo porque não sabia o que fazer. Ninguém sabia que ele estava no carro. Se ficasse escondido por um tempo, até que tudo fosse esquecido pelos jornais, poderia voltar para casa e apenas dizer que se atrasou para o jantar. No entanto, pensou que a ausência deixaria o pai preocupado demais a ponto de transformar em perigo aquilo que, de fato, já era. Não sabia exatamente onde estava mas era pra casa que estava sendo levado quando o acidente aconteceu. E pensou que acidente era uma hipótese que acabara de criar, porque não se lembrava dos minutos anteriores à colisão. Ao mesmo tempo em que esperava um indício verdadeiro de luz, tentava não se distanciar da estrada. Mas não se revelava porque poderiam associá-lo com o suposto acidente. As roupas rasgadas e a dificuldade em andar mostravam que ele não estava voltando direto da festa.


- Você é casado?
- Eu moro com o meu pai.
- Eu me enganei. Eu sinto cheiro de homem casado e fico louca. Fiquei louca por você e agora não sei mais por que.
- Eu tenho namorada. Devo ter confundido o seu faro.
Ela pareceu completamente indiferente a isso.
- A gente vai ficar aqui a noite inteira?
Ele havia respondido alguma coisa, mas ela não fez questão de ouvir. Segurou nas mãos dele e então foram guiados até a saída.
Ela tinha um carro bacana.
- Nós vamos para algum lugar?
- Vamos fazer tudo no carro.
Fizeram.



O sol morto, na verdade, era apenas o sol jovem do dia. Começava a amanhecer e ele pôde se guiar melhor pela estrada. Faltava muito para chegar em casa. Então lembrou que havia escolhido aquela festa simplesmente porque ela era bem longe de tudo que pudesse acusá-lo de trair a namorada. Queria apenas evitar uma dor de cabeça e agora estava sentindo dores por todo o corpo. Precisava primeiro ter certeza da sua inocência. Depois pensaria no resto.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Diagonais - Capítulo 1

Olhou ao redor e soube. Todos estavam mortos. A terra e o sangue coloriam a boca. Então pôde confirmar que a colisão realmente havia acontecido.



- Você está sozinho?

Ele estava terrivelmente sozinho e não gostaria de estar. Era uma chance de tornar a noite mais interessante. Era um lance de aventura. Eles se abraçaram e começaram a dançar uma música desconhecida que não embalava um romance. Era carnal. Era promessa de sexo. Foda. O frio na barriga e o cheiro de drops faziam com que o cérebro identificasse o fogo iminente. O desejo despertado girava ao redor da sua mente e o deixava incapaz de raciocinar. Era perigoso mas era bom. Queria sair daquela zona o mais rápido possível pra fazer o que realmente interessava. Só então percebeu que ela era muito bonita. Sentiu prazer e insegurança. Ela poderia trocá-lo por um rapaz mais atraente. Só que não queria perdê-la. Estava decidido.
Estava predestinado.



Alguém teria visto? E aquela dor enorme no peito era um indício de morte? Pensou ter ouvido gritos no outro carro. Mas era apenas a memória recente do acidente. Viu de longe que haviam acabado com uma família. Quatro pessoas, julgou num primeiro momento. Depois viu que um bebê havia sido lançado em direção ao asfalto. Estava sobre a faixa contínua. Que inferno era tudo isso? Queria despertar mas não tinha tempo. Estava atrasado para a fuga.

domingo, 28 de março de 2010

E só

Às vezes pra escrever a gente precisa de um conflito. E eu tenho encontrado uma paz muito grande ultimamente. Aleluia. É aquela sensação leve de existir. Acho que tive, por muito tempo, preocupações maiores que eu. Só que eu cresci. Fiz meu coração esperar. Foram horas difíceis. A gente precisa mesmo é de tempo pra ver que os nossos problemas não são os maiores do mundo. A gente tem que ligar o som e curtir. Tem que estudar, tem que ler. Tem que ficar perto dos amigos, da família. Tem que mandar mensagem de texto, e-mail, carta, sinal de fogo. Tem que dançar junto. Tem que ser verdadeiro. Tem que evitar as pessoas ruins, porque elas estão por toda a parte. Não temos que ter uma fé imensa no mundo, não. A gente tem é que proteger o nosso coração. Tem que insistir quando for necessário. E se não for o momento certo, a gente tem que abrir mão. A gente tem que compreender, sem ter a necessidade de apoiar. A gente tem que ter o coração aberto pra quem quiser entrar. E só.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Um milhão de vezes

Hoje eu dei o primeiro passo para uma decisão muito importante. Eu vou ajudar voluntariamente um cursinho. E isso me mostrou o quanto sou inseguro e o medo que sinto ao pensar que posso fracassar. Repito o que sempre digo: queria uma previsão correta. Depois de preencher a ficha de participação eu fiquei trêmulo, eu fiquei com os olhos cheios d'água, eu fiquei feliz, eu fiquei preocupado.
Acho que esta foi uma das poucas vezes em que me coloquei à prova. E, por Deus, eu não quero perder desta vez. Eu quero abrir a cortina que me impede de ser especial para os outros. Eu acho que tenho muitas qualidades, mas sou introspectivo. Não porque sou tímido, não porque sou quieto, mas começo a achar que é um tanto de egoísmo sim. Mesmo que não dependa de mim, às vezes eu prefiro me render, não me doar - voluntariamente um perdedor.
Por mais que diga a mim mesmo "Larga mão, é só uma monitoria", eu sei que isso é só pretexto pra sumir com a insegurança.
Talvez isso não seja um fato consumado, mas às vezes acho que não me sinto confortável dentro de mim. Talvez porque eu não caiba.
Sinto que às vezes eu tenho que me perdoar por eu me trair tanto. Aquilo de querer fazer algo e ao mesmo tempo impedir o movimento.
Assim que entreguei a ficha para a secretária ela me disse "Pra matemática, muita gente procura ajuda na monitoria" e eu disse "Meu Deus... mas eu sou bom". E eu sou mesmo. Nem mais nem menos que ninguém. Apenas bom. À minha confusa maneira.
E eu imploro às forças do universo que a minha estrela brilhe e que eu possa ser realmente bom.
Eu sou bom. Invencivelmente bom. E o que quer que aconteça, eu vou me amar mais por ter buscado algo melhor para mim. E que ainda pode ser bom para outras pessoas.
Um milhão de vezes mais feliz.
Um milhão de vezes mais corajoso.
Um milhão de vezes mais perto daquilo que eu sonho ser.

menos de um segundo e eu já perco o ar

domingo, 14 de março de 2010

Uma rosa e uma azul

Quando abriu os olhos e se viu parte do mundo teve vontade de chorar. E chorou, porque o médico deu um tapa com toda a força - do mundo. Nos primeiros anos a vida parecia perfeita. A represa, o restaurante, o zoológico em miniatura, muitos carrinhos e de vez em quando bonecas - por que não? Tinha uma irmã mais velha que às vezes tinha que brincar sozinha. E a gente abre mão das coisas pra acabar com a solidão. Mas não gostava de brincar com ele porque ele só queria saber de quebrar as pernas das suas bonecas. Então passavam a brincar de carrinho pra ver se a destruição era menor. Engraçado que em uma certa ocasião viu uma outra mãe censurando o filho por ter pego uma boneca. E pensou na sua mãe dona de casa e do tanto que ela não ligava pra essas coisas. Podia brincar do que fosse, podia não saber andar de bicicleta, podia dançar e cantar o que quisesse. A mãe dele era muito boazinha - palavra que ele amava. Se algum amiguinho ficava com medo de entrar no quintal para brincar ele logo falava: a minha mãe é boazinha. Ele amava todo mundo que era bonzinho. Porque tinha um medo danado de levar bronca, de cara feia, de tapa. Adorava quando o pai chegava do trabalho com um pão de queijo enorme. Comia só metade. A irmã ia pra escola e escondia o material embaixo da cama pra ele não estragar. Um dia ele achou e pensou que não tinha dono. Foi mostrar pra irmã o que tinha acabado de achar e dizer que também poderia ir pra escola com ela. Mas não podia. Chorou tanto. No outro dia o pai comprara duas lancheiras. Uma rosa e uma azul. Uma pra irmã e outra pra ele. Mas ele ainda estava chateado e acabou jogando a pobre da lancheira contra a parede. E como se arrependeu depois ao ver a lancheira novinha e quebrada. Talvez tenha sido a primeira vez em que quis voltar no tempo. Mas como o tempo não regrediu, a sua passagem fez com que ele fosse perdoado. E desejou muitas vezes depois.

Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram

sábado, 13 de março de 2010

Fragmentos da 10ª Semana do Ano

1º - Como a realidade pode ser engraçada:
Acabei de ver na novela uma cena em que um dos personagens solta um rojão na favela e todos os convidados da festa pensam que é tiro. Eu ri muito no sofá. Mas depois eu percebi como eu sou mau.

2º - Show da Ivete na sexta:
Como aquela desnaturada faz valer a pena mais de 9 horas em pé e/ou pulando, da espera pela abertura dos portões até eu encontrar um táxi para voltar pra casa? Isso que é ser para o que nasce. Abençoada seja.

3º - Porque às vezes a gente se arrepende:
Fica o dito pelo não-dito, o não-dito pelo dito e o pior de todos: o dito pelo dito: que é quando levam muito ao pé da letra o que a gente fala, vira uma confusão e salve-se quem puder.

4º - Quando você tem vontade de @##!$ do nada:
E saiba que @##!$ é algo BEM quente.

5º - Quando você percebe que estava errado (ou quase):
Subestimei a inteligência de uma pessoa que estuda comigo. Depois vi que essa pessoa é muito esforçada.

6º - Pensei, mas não fiz:
Dentista, academia, Autocad, monitoria pra cursinho. Espero ainda ter tempo.

7º - Paineira e outras inspirações:
Uma daquelas coisas bonitas que nem todos os dias a gente percebe. É uma árvore linda que melhora a paisagem da janela durante as aulas de Introdução à Engenharia Bioquímica.

8º - De um celular quase perdido:
Mas não estava. Apenas esqueci na casa do amigo. Descobri quanto um celular pode fazer falta. E como um amigo pode ser tão especial.

9º - Um (quase) parente em uma casa de cópias:
Imprimo trabalhos e apostilas lá desde 2008 e acabei descobrindo só nesta semana que eu sou primo dos filhos do atendente do local. Que loucura! Ele me fazia perguntas tão precisas, do tipo "seu pai trabalha em MT, sua tia mora no Oásis, seus avós em SP"... Por um instante pensei que eu fosse famoso. Fica pra próxima.

10º - Concurso:
Fazer ou não fazer (sem estudar). Tudo fica tão mais difícil quando não estamos focados em um teste com uma concorrência de 5000 por vaga. Estranho isso.

sábado, 6 de março de 2010

Para sempre até o amanhecer

Quando abriu a porta e deu de cara com a cama vazia pensou ser um sonho. Mas não era. Deu graças a Deus e saiu. Existia uma vaga em seu quarto. Ele queria fazer a seleção. Então pensou que não. Voltou para casa e viu como era gostoso rolar a noite inteira pela cama imensa e dormir com dois travesseiros. E vive feliz. Para sempre até o amanhecer. Mas nunca se esquece do quarto de hóspedes. Com cama de solteiro, é claro. Mesmo com o par de taças, o brinde é de um só. Viva a solidão estável.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Não pôde tê-la mas foi capaz de escrever

O meu maior medo é que às vezes me vejo prestes a fazer coisas que sempre achei detestáveis. E isso me mata mesmo sem me tirar a vida. Me viro de costas para não encarar esse precipício e me deparo com uma montanha que não posso escalar. Estou preso em mim e sobrevivo. Eu queria ter a certeza do perdão pra que só depois eu pudesse fazer tudo aquilo que acho certo. Então me perco. Então eu perco. Eu me questionei tanto a minha vida toda. Pra quê? Pra ficar tão vazio de respostas? Agora que não sei de mais nada me arrependo. Me arrependo porque eu continuo lutando contra um inimigo invisível. Nunca sei por qual direção virá a próxima flechada. Não me protejo. É como se eu estivesse dando a outra face. Mas é mesmo certo fazer isto Deus? Por que eu tenho sempre que deixar em segundo plano a minha dor diante da maldade dos outros? Eu me amo tanto que nem sei como cuidar de mim. E a vida de cada um acaba sendo tão exclusiva que não me agradam os exemplos que supostamente tenho que seguir. Implorei tanto para ser livre. E agora, o que faço com a minha liberdade? Pano de chão? Troféu sem utilidade na estante? Talvez nem seja liberdade. Os sentimentos são muito próximos. E são apenas conceitos. No meu peito eles não equivalem às definições. E tudo é tão mais do que aquilo descrito nos livros que só vivendo é que se acha. Encontro o bem e o mal de cada ser em cada visita por um espaço limitado da Terra e vejo que a pessoa mais infeliz do mundo foi aquela que, pela primeira vez, definiu o invejável conceito da perfeição. Não pôde tê-la mas foi capaz de escrever em um pedaço de papel ou pedra aquilo que ela seria. Imaginou. É isso o que tenho que fazer: tornar menor o espaço entre imaginar e viver.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Um lugar que me cabe

Eu vejo o teclado duplicado e talvez isso seja um sinal de que eu não estou no meu estado normal. Bebi demais, provavelmente. Mas não a ponto de revelar um segredo. Porque eu não tenho. Eu só quero encontrar um lugar onde eu possa estar. Sem ser julgado ou vigiado por olhos severos. Ter algo em que eu possa confiar, me apoiar. Um lugar onde eu não seja o único. Um lugar que você, só você pode achar. Me achar. Me ter. Porque eu quero dividir as estrelas que vejo, as flores que persigo. Eu me sinto tão sozinho às vezes e você nem sabe. Me deixa entrar, me deixa pertencer ao seu mundo. Me faz sentir aquilo que mereço. Me faz ser quem eu sou mais e mais e mais e mais. Me faz me amar e me dividir. Me faz ser real. Me faz conhecido aos seus olhos. Me desvenda e me perdoa ao mesmo tempo. Eu não tenho culpa. Me descubra.
E por que tudo tem que ter um começo, se isto é o mais difícil?
Sei que você me quer, mas não sabe como. Então por que eu tenho que esperar? Por que eu tenho que ser a vítima das suas indecisões? Eu odeio o seu amor próprio, que te torna mais importante do que eu. Não era pra ser assim. Eu queria estar acima de tudo pra você. Acima de Deus e da tua mãe. Eu queria te domar. Porque só assim me sentiria seguro. Envelheço e não tenho o teu carinho. Me deixa ser seu. Mas quero que você dependa de mim e que não viva longe dos meus passos. Quero você completamente aqui comigo. De alma entregue. Quero que você se sinta mal quando eu estiver longe. Viajando, passeando com os amigos, fazendo o que eu gosto. Porque eu quero te punir por ser tão dono de mim. Eu quero que você sinta o quanto eu faço falta. Eu sou a pessoa mais importante do mundo pra você. E quero que você tenha medo de perder. Quero que você me queira pra sempre. Sem medo de me ter velho e insuportável. Quero que você tenha o vício de viver comigo. E o pior de tudo isso é que tenho que dissimular, dizer que você pode fazer simplesmente o que é melhor pra si mesmo. Mas não pode. Não se esqueça de mim. Me projete em seu futuro. Faça de conta que não sabe de tudo isso que acabei de escrever. Dissimule também. Viva a sua falsa liberdade. Mas por favor, não me mate. Não me mate de ciúme. Não me mate de saudade. Não me mate de vontade. Te preciso. E quero do fundo do meu coração que você precise incontrolavelmente de mim também. Porque mesmo gostando de números, eu sou extremamente humano.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Old habits die hard

Quando eu tinha 16 anos, eu escrevi uma história para a aula de Sociologia. Não me lembro exatamente do tema - devia ser algo sobre desigualdade - mas me lembro da vítima. Era a minha amiga Juliana Natália. Além de entregar o texto para o professor, eu ainda o digitei e enviei para todos os nossos amigos. Era a forma mais sensata de homenagear a minha amiga.

From: thiagoroo15@hotmail.com
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> Subject: FW: Historia super engraçada
> Date: Sat, 23 Apr 2005 19:34:01 -0400




> >Situações ANTAgônicas
> >
> >
> >
> > Toda a tarde, Juliana usa ônibus coletivo para se locomover do bairro
> >Parati até o centro, e durante essas idas e vindas, ela conheceu um rapaz, que
> >trabalhava como cobrador do veículo. Ele se interessou por ela, mas esse
> >sentimento ficou oculto por muito tempo.
> >
> > Mesmo com tantos encontros, Juliana nem sequer reparou no humilde rapaz,
> >pois logo depois ela veio a confessar que o jovem não fazia seu "tipo" e que não
> >lhe proporcionaria a vida que tanto sonhara (ou seja o rapaz era pobre).
> >
> > Com o passar do tempo, Juliana reparou que os olhos do rapaz estavam
> >sempre voltados para ela. A princípio, ela achava que era uma simples coincidência,
> >mas os olhares se encontravam com tanta freqüência que a jovem começou a
> >estranhar.
> >
> > Então, em uma tarde, ele tomou coragem e chegou perto dela, dizendo:
> >
> > _Posso lhe fazer uma pergunta?
> >
> >E Juliana imediatamente respondeu:
> >
> > _Não, a resposta é não! Definitivamente não, jamais eu vou querer algo com
> >você!!!
> >
> > Os olhares chegaram ao fim, e essa história é verídica, pois eu sempre a
> >acompanhava até centro usando o coletivo. E na mesma tarde em que ela disse não, eu vi o
> >jovem cobrador rindo muito e comentando com o motorista:
> >
> > _ Pobre moça, nunca vai saber que a braguilha de sua calça está aberta! E
> >o pior é que ela faz isso todas as tardes.
> >
> > Se Juliana tivesse dito sim, não precisaria andar toda tarde no centro com
> >o zíper aberto!!!
> >
> >Juliana Natália hoje tem 17 anos, estuda no Ceac, continua morando no Parati,
> >mas sempre verifica se o ziper não está aberto!
> >
> >



Bom, foi esse o famoso email. Hoje na verdade a Juliana já tem 21 anos, quase 22. 5 anos se passaram e ela ainda continua andando com o zíper aberto pela cidade, recebendo flertada dos cobradores e, além disso, sendo minha amiga. Ah, e o cobrador virou motorista! =D

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O início da saga

Talvez se este fosse um blog anônimo, eu poderia escrever tudo com mais firmeza. Mas não é. Falta coragem para fazer um novo. E falar de forma aberta sobre emprego e oportunidades negadas pode gerar muitos desentendimentos. Só que... isto pode me ajudar a ponderar sobre o que as pessoas podem saber ou não. Um protesto anônimo e ao mesmo tempo individual, se formos pensar bem, não faz sentido. Eu sou o protagonista aqui e eu quero que vocês me conheçam.

Eu me formo este ano em Engenharia Química, que por algum motivo eu insisto em escrever com letra maiúscula - mesmo sendo a forma correta, mas pouco usada pelos colegas de curso. Antes disso, eu terei que ser aprovados em algumas disciplinas e conseguir um estágio - estágio que ainda não sei onde, nem como, nem quando e nem de que jeito - o que equilave a "como", mas eu precisava ampliar o número de incertezas.

Hoje em dia podemos submeter o nosso currículo de tudo quanto é jeito. E o que era pra ser bom, no fundo, só complica o coração do futuro estagiário.
A sensação que eu tenho é a de que nunca leram o meu currículo, em meio a tantos outros que chegam a cada segundo.

E eu tento pensar nos meus diferenciais e vejo que eu tenho muitos, mas não sei de que forma eles podem ser aproveitados. Penso se realmente mereço uma chance e vejo claramente que sim.

A realidade maior é esta: você não está pronto pro mercado de trabalho.

Bom, eu acho que é o mercado que não está pronto para mim - o que equivale a dizer que o mundo todo está errado e que eu sou a única pessoa correta, ou ainda, devaneios.

Quem será que vai me escolher? Isso é muito maluco. Existe alguém no mundo que eu ainda não conheço que vai ser extremamente importante para mim. Mas no fundo, será que eu vou ser escolhido ou tudo o que está por vir é apenas um fragmento das milhares de escolhas que eu venho fazendo ao longo do tempo.

Eu não sei.

Proposta 2010

Em poucas palavras:
A Busca por uma oportunidade no mercado de trabalho.

Os textos serão sobre minhas expectativas, meus receios e minha luta por uma vaga.
As postagens começam hoje.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Máscara

"chegou à visão de que a vida bem vivida era mais importante do que qualquer vida após a morte"

sobre Confúcio, do livro Uma Breve História do Mundo.

Talvez seja mesmo tempo de escrever alguma coisa. Pra trazer alegria, quem sabe? Escrevo sem saber ao certo aonde quero chegar. Pode ser que tudo termine muito mal. Busco na memória algum episódio mas não acho. Por que é tão difícil aceitar a tristeza? Sabe, eu estou triste, mas não da forma convencional. E sinto que é chato escrever mais uma vez sobre isso. E deve ser pior ainda ler algo parecido. Por isso vou ser mais coerente com a frase que inicia o texto. Mais uma chance, então recomeço:

Hoje eu acordei com uma vontade louca de me perdoar. Pra tirar aquele peso das costas. E também, aproveitando a onda de boa vontade, tentar ao máximo me esquecer dos outros. Dos problemas, das vontades, dos inimigos. Tempo pra me conformar com o que eu tenho, com o que está para acontecer. Fiz 20 minutos de exercício e nadei mais 15. É pouco. Sim, é bem pouco. É muito pouco. Pude ver um pouco de tv e dizer algumas verdades pela internet. Li um romance em inglês - na verdade algumas páginas - e sinto que vou terminá-lo um dia. Também li um trecho do livro que cito no início e, depois de amar a frase apresentada, decidi ligar o computador e escrever um texto. Tinha tudo pra ser triste mas não foi. Eu não permiti porque eu mereço algo diferente. Estou, não triste, mas assustado com o fato de estar possivelmente triste. E esta pequena probabilidade de eu estar errado me mantém firme pra dizer que SIM, EU ESTOU ENGANADO. Não é tristeza o que sinto. É outra coisa com outro nome e com efeito parecido, mas não é o que parece. Que seja assim. Pronto. Estou melhor. Ave Maria, se tivesse champanhe eu abria.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Soap Opera

"Agora que a poeira tá baixando,
eu vejo que eu tô mesmo é de coração partido"

Mirna para a pata Doralice, personagens de Alma Gêmea.

Porque a vida da gente é assim.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Wishlist

Um escritor sabe o momento exato de parar de respirar e começar a escrever.
Um eterno aspirante pode tentar.

Hoje eu volto pro Brasil. E o que fica no Canadá?
Resposta: Muitos dólares que um dia foram meus.

Mas além disso, eu começo a pensar se eu pude deixar um pouquinho da minha história aqui.
Quando eu era criança, eu pensava que eu nunca conseguiria viajar para o exterior. A vida não era fácil e eu já entendia.
Mas eu acho que Deus - ou tudo aquilo que é simbolizado por Ele, caso eventualmente você não acredite - nos dá um presente todos os dias.
Um dia eu acordei e Deus colocou no meu caminho essa oportunidade. Ou eu já teria nascido com ela?

Este texto tem basicamente a seguinte proposta:

O coração tem o direito de se confundir...

Hoje eu não sei se estou triste ou feliz, se o que sinto é ansiedade ou saudade. Saudade de qual hemisfério?
Penso em tudo o que foi preciso fazer para que eu estivesse aqui hoje. E que boa parte desse sacrifício não diz respeito a mim. Tantas pessoas abriram mão de um pouquinho de suas vidas para que a minha pudesse ser ainda mais feliz. Enquanto penso na imensidão do mundo e dos lugares que desconheço, fico imerso em sentimentos e me reduzo a fração microscópica que sou diante de todo o amor que eu recebi.
E hoje eu posso ver que a vida é curta porque amamos demais. A finitude do tempo é desleal diante dos nossos sentimentos.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Just an Old Sweet Song

Ontem eu visitei as cataratas do Niágara e sabe o que mais me deixou louco por lá?
Eu estava em frente a uma loja quando de repente eu ouço "Georgia on My Mind". E como aquilo me fez feliz. Fiquei andando de um lado pro outro, sempre perto da loja pra não perder nem um segundinho da canção. Devia estar parecendo uma barata tonta embrulhada num colchão - sabe como é, tenho que usar muitas roupas por aqui.
Mas antes que a canção acabasse, eu tive que partir. Era a hora de voltar pra casa.
E conforme eu caminhava, o volume da música diminuía e o meu coração se apertava.
Eu me senti em um final de filme. Um filme em preto e branco. Cinema mudo. Pra exigir mais da nossa imaginação.
Mas quer saber, podem subir os créditos.
O final foi feliz.




quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Decifrando Espelhos

"No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém"

Porque esta música me veio à cabeça e eu não sei a razão. Se é que existe. Talvez porque eu sinta falta da bússola que eu nunca tive. E me invade também a ideia de que "bússola" é uma palavra horrível. E tudo é uma rede de memórias, porque acabo de me lembrar de "Vidas Secas" e de como um dos personagens do livro se maravilhava com uma palavra que fazia referência ao demônio - não me recordo exatamente qual porque o demônio tem muitos nomes - e o menino pensava como uma palavra tão bonita podia significar uma coisa tão feia.
Vidas Secas foi o primeiro livro de impacto que eu li. Eu posso me lembrar exatamente do dia em que eu o comprei. Havia uma exposição no shopping com o objetivo de incentivar a leitura e, como eu estava invadindo este universo, fui conferir a tal exposição com os meus pais. Eu me lembro de ter me aproximado dos livros e não conhecê-los. Posso me lembrar da voz do meu pai sugerindo Graciliano, posso me lembrar de um casal dizendo que eu tinha bom gosto ao escolher aquele livro, posso me lembrar da minha mãe dizendo que ninguém no nosso país podia se tornar um leitor - não com os livros por aquele preço. Porque eles estavam realmente caros.
Eu estava na oitava série e precisei de três dias para concluir a leitura. Lembro que levei o livro pra escola e uma amiga falou que até cego conseguia lê-lo - a fonte do texto era muito grande. Posso me lembrar que eu não entendi todas as passagens. Acho que até hoje não as decifraria.
Mas a razão disto tudo talvez seja porque eu estou com vontade de falar sobre uma vitória. Uma barreira que a gente ultrapassa. Uma atitude que defina o antes e o depois. Posso reconstruir a minha própria imagem naquela época, no início da adolescência e sentir um amor tremendo. Mas não por mim, nem por Graciliano. Nem mesmo por meus pais ou por aquele casal. Não é um amor direcionado e dedicado a alguém. É um amor pela vida. Por eu existir, pela oportunidade de manter o coração batendo, por eu não ter desistido.
E ontem mesmo meus amigos estavam falando que o número de suicídios aumenta no inverno e que a maior contradição é tirar a própria vida - se pra viver exige coragem, pra morrer então nem se fala.
E eu penso que eu quis morrer em alguns momentos. Se dependesse apenas de um controle remoto pra desligar tudo, eu teria apertado o botão. E eu juro que não tenho tendências suicídas nem desconheço o meu valor. Eu só estou sendo sincero da minha maneira. Existe uma boa razão pra ser tão difícil acabar com a própria vida.
É porque ela vale a pena.

domingo, 17 de janeiro de 2010

A primeira despedida

Hoje uma amiga voltou para o Brasil. Uma pessoa que se tornou bem especial em um curto intervalo de tempo. Assim como deveria ser, na verdade.
Esta experiência de ver gente legal indo e vindo também é bastante... foda. E foda pode significar muita coisa. Mas pelo contexto você pode sentir de que maneira a palavra se encaixa melhor.
É foda escrever sobre algo que você realmente acha foda. Porque existe o risco de não parecer tão foda quanto é.
Ter que se despedir de alguém é foda em qualquer idioma. Em qualquer lugar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A sensação do novo ou Enquanto houver esperança

Só pra começar, devo dizer:

sinto falta de tudo.

Hoje faz uma semana que eu cheguei em Toronto e é impressionante como a saudade está imensa, apesar do pouco tempo far from home. Acho que é porque eu estou longe de verdade desta vez e também por causa da correria das festas de fim de ano e tudo aquilo que elas envolvem.

A experiência de passar um tempo fora do Brasil está sendo válida. Primeiro de tudo, pela neve. Pelo que percebi, os nativos a odeiam. Eles bem que podiam transportá-la pro Brasil. Mas o fato é que ela torna tudo mais charmoso, ao meu ver. E eu, quando saio de casa atrasado e loucamente desarrumado para ir à aula naquele frio tremendo, penso comigo: eu não estou combinando com este lugar tão bonito. A gente tenta alinhar a roupa, ajeitar o cabelo, mas não tem jeito.

O que mais me chamou a atenção foi o fato de que, quando se está longe de tudo, andando sem direção e sem compromisso, "conhecer" vira sinônimo de se apaixonar. Não só por prédios ou lagos. Mas por pessoas também. Acho tão amável quando alguém vem conversar comigo. Hoje mesmo eu estava andando pelas ruas e na hora de voltar para casa eu decidi entrar em uma estação de metrô diferente da usual e, como já era de se esperar, eu não sabia se pegava o trem da esquerda ou o direita. Abri o meu guia e antes mesmo que eu pudesse conferir a direção apareceu uma senhora e me perguntou se eu precisava de ajuda. Acontece que eu me desespero um pouco pra falar quando eu sei que, se a tecla SAP falhar, eu não tenho ao que recorrer. Mas no final das contas a gente se entendeu, agradeci fervorosamente, como um bom brasileiro, e consegui chegar em casa.
E foi no metrô que eu arrumei um exemplar de jornal com uma matéria muito bonita sobre Miep Gies. Não sabe quem é? Eu também não sabia. De forma resumida, Gies foi uma das pessoas não-judias que se dispuseram a esconder Anne Frank e sua família dos nazistas. Quando Anne foi capturada, transportada e morta nos campos de concentração, Gies manteve o diário de Frank preservado. Quando o pai de Anne, único sobrevivente da família, retornou a Amsterdã, Gies entregou-lhe o diário, tornando possível a sua publicação para mais de 30 milhões de pessoas em 67 idiomas.
Com uma tradução rápida, segue o trecho da matéria que eu achei mais bonito:
"Mesmo passando a vida sendo testemunha da coragem e humanidade de Anne Frank, Gies subestima a sua própria coragem. "Eu não sou uma heroína", diz ela muitas vezes. Ela estremece todas as vezes em que as pessoas a veem desta maneira, fazendo com que todos duvidem da sua própria capacidade de fazer o mesmo. E ela diz que fez isso simplesmente porque pareceu necessário na época.
Por boa parte da minha vida eu pensei o que eu consideraria necessário na mesma situação. O que me preocupa é o fato de que, como milhões de pessoas, eu apenas abaixaria a minha cabeça, ou pior, escreveria uma coluna pró-Nazista com bastante entusiasmo. É muito mais fácil ser covarde.
Mas eu gosto de pensar que, se uma frágil mulher, uma simples secretária, foi capaz de permanecer gigante e corajosa diante do inferno, então eu também sou capaz. E quanto a você? Enquanto nós pudermos lembrar de Miep Gies e sua formidável história, existirá esperança para todos nós.
Miep Gies faleceu nesta Segunda, pela noite. Ela foi minha heroína."