quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O podre amadurecimento

Tenho mania de escrever sobre maturidade. Talvez porque eu me conheça tão bem a ponto de notar as pequenas evoluções (ou regressos, porque nem sempre amadurecer é estar no ponto - o caminho é tortuoso). Porém o fato de me conhecer bem não me isenta de grandes inseguranças. Tenho medo das minhas decisões talvez porque eu seja intenso demais a ponto de não enxergar que há caminhos de volta. Ou, de uma forma mais simples, eu odeio voltar atrás ou mudar de opinião. Quando isso acontece, perco o rumo e tenho que ficar ensaiando diálogos para convencer seja quem for (inclusive eu mesmo) que tudo o que eu falo e vivo naquele momento tem raízes e explicações tão profundas de tal forma que estamos encarando o inevitável suicídio dos hermafroditas do pequeno município de Aripuanã. Não, não estou dizendo que não aceito sugestões, como alguém que encerra uma palestra e não abre espaços para perguntas. Apenas evito. E morram de medo, eu sou calculista. Tenho uma lógica de pensamento tão bem encadeada e programada que, quando algo não sai do jeito que eu esperava, é como se pintasse no computador o clássico erro da tela azul. E isso é até fantasmagórico, porque sou calculista, mas não sou frio - e dificilmente a gente encontra essas características em conflito. Talvez por isso eu seja um engenheiro que escreve num blog. Poucos engenheiros escrevem em blogs, com exceção dos naturistas e dos pseudo-hermafroditas do pequeno município de Aripuanã, que ao contrario dos verdadeiros, bebem e fumam o dia inteiro, morrendo assim de causas mais do que naturais. Mas eu não me enquadro nesse grupo (apenas para o caso de surgir uma dúvida na cabeça dos meus leitores atentos que também adoram a revista Tititi). Então, no fundo, escrevo para informar que tenho amadurecido o suficiente para dizer que não sou hermafrodita e nem frio. Sei que isso não importa muito para ninguém. É apenas para constar em documento (quase) oficial de que a população hermafrodita do pequeno município de Aripuanã está diminuindo enquanto eu me perco em futilidades retratadas neste texto.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Informativo de última hora

Este é um texto comum sobre uma coisa comum. Então ele não tem a função de escandalizar você. É sobre a descrição de um sentimento. É o extremo sentir que há uma vaga dentro de você. Algo para a qual você abre inscrição e faz entrevistas. Mas no meio-termo nós temos os pequenos vazios, aqueles que sempre nos rondam e se deslocam de tal forma que um novo substitui um velho e isso vai moldando a silhueta da nossa alma. Eu me sinto tão perto de algo extremamente positivo para a minha carreira mas vejo que por algum motivo eu não alcanço. Obviamente eu não consigo identificá-lo. Sinto o mesmo com relação a outros aspectos da minha vida multifacetada e um tanto mística. Parece que falta um passo e quando vejo estou fazendo uma caminhada na direção contrária. É porque me perco um pouco, talvez pela falta de experiência e, em 84% dos casos, por burrice mesmo. Porque a gente às vezes é tão cego e tão mesquinha que nada do que é bom realmente nos parece ser em dados momentos. Eu sonhei tanto com alguma coisa tão mega-extraordinária para o meu futuro e, quando chegou a hora de realizá-la, eu descobri que eu sou humano e, por consequência, posso ser um fracasso. Não, não estou dizendo que este é um parecer final, um super-veredito. Nada disso. Falo de hipóteses. Porque a gente erra e falha todo dia e o nosso maior alvo é o próprio coração e, míopes por natureza, todos aqueles que estão ao nosso redor. Faço uma correção: às vezes erramos o alvo por querer, mesmo com óculos super novos. Seja por misericórdia ou egoísmo. Quem disse que o meu sofrimento é tão grande a ponto de sensibilizar outra pessoa que já tem os dela? Não existe régua para isso. Ouvimos dizer que, se soubéssemos o quanto fulano sofreu na vida, a gente veria que a nossa tem sido fácil. Não! A dele foi difícil e a minha também está sendo, mas de uma outra forma. Uma coisa não neutraliza a outra. Chega de se contentar com o sofrimento dos outros e continuar a viver aos trancos e barrancos. Não chega a ser um desabafo, porque confesso que não é algo tão pessoal. É apenas algo em que eu acredito.

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A minha vida é muito boa, obrigado e eu sofro muito pouco ou quase nada, grato novamente (por isso, não leia com dramaticidade o parágrafo acima, eu avisei que não era algo extremante pessoal, enfim... sinto muito por estes parênteses, mas é para o caso de você ter memória boa e se lembrar do que leu segundos atrás). Eu falo isso pelas pessoas do meu país. O salário mínimo vai aumentar 5 reais? Vão cortar impostos cujas siglas a gente nem sabe o que significam e o destino do fundo arrecadado quase todos desconhecem? Não é ignorância minha. Sou inteligente (apesar de que em 84% dos casos... enfim, acredito que você leu o parágrafo acima) e bem informado. Lembra daquele passo que disse estar faltando para a minha carreira? É talvez da mesma medida que falta para um jovem entrar na faculdade ou para outro sair do mundo das drogas e da prostituição. É o que falta para o sonho dos brasileiros, alguns com sonhos megafantásticos como eu. Quando olho para o meu país eu sinto algo que eu não sei dizer. É um sentimento comum, mas é indecifrável. Dizem que não importa o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país. Tudo bem. Ficamos então nesse chove-não-molha com cara de quem acredita que tudo está nos conformes.

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De malas prontas novamente. Mais uma casa, mais uma cidade, mais um passo (espero que para a direção certa!).

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Saudade só aumenta

Hoje eu recebi uma notícia triste. Na verdade, uma confirmação.
Eu escrevi o texto abaixo após uma conversa por telefone com a minha mãe, quando fiquei sabendo do estado de saúde da minha vó e do parecer dos médicos.
Que não se consolidou.
Minha vó voltou para a sua casa, estava sendo tratada lá e então pude passar algum tempo com ela. Hoje ela partiu. Me sinto aliviado, porque acredito que ela sofria muito. Mas fico triste porque sei que ela queria viver, rever os filhos, netos e bisnetos que estão no Japão. Há tantos motivos para que alguém queira viver e é uma pena que eles dependam tanto do coração dos outros, que às vezes desconhecem, às vezes ignoram.
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Escrito em 19/11/2010:

Você vai fazer tanta falta pra mim.
Há tantas coisas que queria saber sobre você.
Não esperava perdê-la agora, mas eu aceito todas as decisões que a vida toma.
Sinto-me inevitavelmente triste.
A nossa família é marcada por tanta saudade, temos tantas ausências. Você deve ter sofrido muito com relação a isso.
Batchan, de você herdei a oportunidade de ser inteligente, e foi isso o que mais me abriu portas na vida.

Acho uma pena você partir e eu ficar, o mundo perderia menos se fosse o contrário.
Sinto muito pela distância entre nós.