segunda-feira, 19 de abril de 2010

Diagonais - Capítulo 4

A cidade estava morta e ele se sentiu aliviado por não ter sido abordado pelas pessoas. Ninguém parecia ter curiosidade pelo seu estado deplorável. Julgou ser bom toda a indiferença, mas depois pensou por alguns segundos em como elas eram mesquinhas por não ajudá-lo. Ele deixava suas células mortas pela rua por onde passava e os outros pouco se importavam. O fato de estar no portão de casa o deixou aliviado. Estariam todos ali? Na igreja? No asfalto como aquele bebê? As luzes estavam todas apagadas.
No quintal, sentou-se num velho banco de madeira podre e apenas esperou a ocupação da mente por algum pensamento solitário, porque ele se sentia assim naquele momento. No vazio daquela noite notou uma presença ao seu lado:

- Por que você se atrasou?
Era a sua mãe.
- Eu me machuquei. Quis dar uma volta ontem à noite e alguns rapazes me bateram. Fiquei desacordado e perdido por um tempo.
- Onde estão todos?
- Dentro da casa.
- Por que está tudo escuro?
- Estamos sem energia há um tempo. O que há com você?
- Eu pensei em uma coisa mais sombria mãe. O velho problema da falta de luz nessa droga de cidade...
- Eu te amo tanto.
- Eu vou entrar.

Enquanto caminhava rumo à porta dos fundos, sentiu um aperto no peito por não amá-la da mesma maneira. Então se lembrou. Ele nunca havia conhecido sua mãe. Ele havia morrido no parto. Desesperadamente olhou para o banco de madeira e o encontrou vazio. Apenas um vento leve fez com que as folhas se deslocassem lentamente. Não podia chorar porque não compreendia. Tinha um grito preso na garganta que o fazia sangrar. Continuou andando. O que estava acontecendo afinal?
Abriu a porta e teve a face iluminada por velas.

Um comentário:

SUSANA disse...

Ele morreu! Que burra que eu sou! rs