sábado, 14 de maio de 2011

Só dói quando calo

A dor é sempre algo tão novo. Se fosse a mesma, a gente seria acostumado. Só dói quando calo. Então a gente chama um amigo e conversa. Sempre com a desculpa de fazer a dor passar. E, veja bem, não é que passa? Não, é tudo camuflagem. Ela continua ali. A dor é imortal, cumulativa e bordô. Relembrar algo que te machucou, dói. A dor, quando buscada nas lembranças, parece menos intensa. Diz-se então que foi superada. Mas não foi a dor que perdeu a sua força. Foi a memória. Eu me lembro perfeitamente de tudo o que fez o meu coração sangrar. Às vezes perdoei. Por amor a mim mesmo. É uma sentença de morte que eu não quero aplicar ao destino dos fracos. Não quero esse peso para as minhas costas. Seria então: peculiar, porque dor não possui um sinônimo perfeito. Tenta-se explicar, mas para a dor só há hipóteses - o que compreende aquilo que poderia ter sido evitado. Mas repito um conselho:
Nunca evite a dor. E eu vou dizer por que:
A primeira dor que se sente é a de respirar pela primeira vez. Depois vem um tapa, a claridade das salas, o alimento. Passado um tempo pode-se entender os primeiros sons, associá-los. Então se fala. E a palavra é o demônio da dor. Até quando não se diz.
Só dói quando calo.
E quando falo também.


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Sugestão do Victor Ribeiro.

4 comentários:

Magnólia Ramos disse...

Texto perfeito!

Descreveste exatamente o que penso. A dor quando lembrada parece uma pequena gota de sangue, mas vivenciada é um verdadeiro oceano.

Eu ja falei tanto sobre a minha dor que prefiro nao mais tocar nos assunto.

Parabéns pela postagem.

Marcos disse...

O importante é não ficar alimentando essa dor.

Elielza Souza Abreu disse...

"A dor é inevitável, o sofrimento opcional!!!"

Eddie disse...

Infelizmente não sou capaz de fazer um comentário a altura do seu texto, permita-me pegar uma frase emprestada de outra pessoa:

"A recordação da felicidade já não é felicidade; A recordação da dor ainda é dor."

Ótimo texto! Parabéns!