domingo, 16 de agosto de 2009

Porque ele deu o que falar

A visita do meu priminho foi algo maravilhoso para nós. A casa ganhou, ou melhor, perdeu muitos anos de vida. Ficou mais jovem, mais agitada e muito, mas muito mais barulhenta. Isso porque meu priminho é viciado em filmes e fala muito alto, a ponto de pensarmos há algum tempo que ele fosse surdo. Mesmo se você estiver ao lado dele, ele irá gritar ao te responder. Mas isso é mania herdada dos meus barulhentos parentes por parte de mãe. Se Elisângela está na sala e quer falar com Leandro, que está na cozinha, ela não se levanta e ele fica onde está. Eles irão conversar, mas cada um no seu canto. A gritaria é mais nítida que som de tv digital.
Não estávamos mais acostumados a ter visitas com tão pouca idade, então houve uma sensação de renascimento para nós. Não quer dizer que tenha sido puramente prazeroso. Criança, de fato, dá muito trabalho. E não sei se vocês já perceberam, mas em uma casa, a criança está em todo lugar. Não havia um cômodo imune ao meu primo, onde pudéssemos ler ou ter um pouco de silêncio. Sem falar que ele dominou a programação da tv, o videogame do meu irmão, o computador... As crianças de hoje em dia estão demais. E as de antigamente também. Criança é criança e ponto.
Superamos muito bem o fato de termos as nossas escolhas limitadas para deixá-lo mais feliz. Junto com ele, vieram minha tia e minha vó. Foi um prazer tê-las aqui e abrir mão do sossego constante do nosso lar, afinal, elas são pessoas que dedicaram muito de suas vidas por nós. Mas falarei de cada uma delas em outra oportunidade.
O que eu mais gosto do meu primo é que ele é muito comunicativo e não sou eu quem luta incessantemente pela atenção dele, nem o inverso, mas ele acaba me envolvendo em suas conversas e vontades de criança de maneira muito natural. Ele me faz interagir em um universo que eu jurava ser incapaz de voltar a pertencer.
O mais interessante são as situações que ele cria. Sem um pingo de vergonha ou malandragem, ele se mete em muitas confusões. E foi isso que me levou a criar este texto: a sua última travessura aqui em casa.
Fiz uma viagem rápida a Uberlândia, para apresentar um trabalho, e lá comprei algumas lembranças para os nossos visitantes. Para o meu primo, comprei um porta-retrato que tinha na moldura um garotinho muito parecido com ele e para a minha vó comprei um cristal com uma base luminosa que, de uma forma inusitada, representava Jesus numa boate. Era um charme. Fascinado pelas luzes de cores aleatórias, meu primo logo mostrou interesse pela prenda alheia. Mas não podia. "Presente é presente", lhe foi explicado. Ele ficou emburrado, andando de um lado pro outro, com uma cara desconfiada. Como minhã irmã iria levá-lo a um passeio, minha tia deu a ele algum dinheiro. E não é que ele apareceu beliscando a minha vó com uma nota de vinte reais, cochichando algo que, no momento, era particular entre eles. Mas minha vó, a procriadora dos altofalantes da família, foi logo alertando em alto e bom tom:

- Vê se pode uma coisa dessas, o menino quer comprar o meu presente! A vó não vai vender não!

Nosso silêncio confuso foi logo quebrado por gargalhadas que se cruzavam desesperadas. Com a negociação exposta, ele insistiu:

- Ah vó, me vende. Que coisa!

E foi assim que o suborno mal sucedido foi revelado. Meu priminho fechou com chave de ouro a sua saga de armações nessas férias que, sem sombra de dúvida, vão deixar marcas eternas em nossas vidas.

9 comentários:

Fernanda disse...

que criança mais fofa...a gente só ve o valor da infancia quando cresce.

Ana Aitak disse...

Muito lindo, seu priminho, seu texto e os comentários que deixa pra mim. Não dá pra dizer o quanto eu gosto...Bjuss

SUSANA disse...

Thi, não sei como, mas te perdi no orkut! Clico em seu perfil, mas aparece uma mensagem de "página inválida". Não te encontro na minha lista de amigos, nem tem mais nenhum recado seu pra mim aparecendo. Não entendi nada...

Ah, li o texto do blog que você indicou e li outras postagens de lá também. Muito interessante a história dela!!! Gostei da maneira como ela escreve, ela parece ser tão legal!

Agora, dá licença que vou ver "No Limite", rsrsrs.

Beijo.

Caio Marques disse...

Crianças têm a capacidade de fazer nos lembrar que ja fomos verdadeiros, sem máscaras e puros uma vez na vida :)

Quero logo ter os meus hehehe

Abçs
Boa semana!

ZeZiTo disse...

Então, eu nunca tinha deixado um comentário nesta budega, mas agora estou deixando.
E é um protesto!
Cadê seu orkut??
Fui deixar recado e???...
NADA!!!
Vc vai ver!
Só pra constar, adoro seu primo!
Vou ser amigo dele em alguma
encarnação futura!

Anônimo disse...

Hahaha
Não tem NADA melhor que criança, é verdade.
Tenho um primo bem parecido. Moleque é moleque.
Agora que ele mudou pra Suiça com o pai, faz uma falta...
O silêncio é palpável.

Anônimo disse...

Legal. Você escreve muito bem.

O Menino do lado__ disse...

Deve ser de familía toda essa sagacidade!

Hahahaha

Esse menino é capaz de vender até a Vó =O

heuaehauheuaheua

Ana Aitak disse...

RE: eu não quero nem saber se é exagero seu, fico feliz demais com seu entusiasmo...encantador.
obrigada

bjuss