sábado, 13 de dezembro de 2008

o Sol não nasceu hoje

Às vezes peço à consciência para que eu me esqueça de todos os mortais e, por segundos apenas, lembre só de mim. Das minhas preocupações. Dos meus problemas, que às vezes nem existem.
A calçada estava quente, a vida era uma miragem. O asfalto ao longe parecia estar molhado e no fio de luz havia uma daquelas bolas, que se parecem com as de basquete. Quando eu era criança eu chorava no banco de trás do carro porque eu pedia pro meu pai pegá-la e ele dizia não ser possível. Olhava para o asfalto ao longe supostamente molhado e perguntava pra minha mãe se lá estava chovendo. Não estava, ela dizia. Eu acreditava só quando a gente chegava bem pertinho.
Um outro dia, eu estava descalço e fui correr na rua só pra preocupar a minha vó. Eu corri no asfalto quente, cheguei no meio da rua e não consegui voltar, meus pés ardiam e eu gritava, pedindo ajuda. Minha vó foi lá correndo e me pegou no colo. Nem brigou comigo.
Hoje eu não tenho coragem de andar descalço nesse imundo asfalto. Nesse chão de homens crescidos.
E ainda hoje, no carro, eu posso sentar nos bancos da frente. Posso até dirigir.
Mas, quando eu deixei de ser criança?
Eu ainda penso nas bolas de basquete, no asfalto molhado que de perto estava seco, na vó, nos gritos. Eu queria nascer de novo. Viver tudo de novo. E escrever tudo isso de novo.
Isto tudo não é nada, isto tudo é normal. Hoje é só um dia ruim. Dezembro tem 31 dias, este ano tem 366. Um deles tem o direito de nascer ao avesso. Mas só um. No mais, o ano já está quase acabando. A vida, não.

3 comentários:

Juliet disse...

Que vontade de voltar a ser criança e ter um banco de praça pra brincar!
=D
bjukas thi!

Fernanda disse...

Nossa me lembrei da minha infãncia...
a melhor parte da vida sem dúvida nenhuma.
mais uma vez adorei o texto.
e adoraria que você escrevesse um texto para meus versos perdidos...
se vc aceitar depois me fale.
ficarei super contente=)

Zingador disse...

Ah esses dias ruins... mas gosto tanto deles, as vezes usufruimos mais dos dias ruins... risos
Quanto a ser criança, gosto de lembrar das coisas que aprontei e olha que não foram poucas, mas a cada dia que passa gosto só de lembrar e construir espaços nesses asfaltos imundos.
Grande Abraço